O presente texto visa abordar os principais elementos comportamentais observados no livro “Killer Clown-retrato de um assassino” e no filme “Gacy”, que conta a história real do assassino em série “John Wayne Gacy”. O livro e o filme descrevem o comportamento de um indivíduo a cima de qualquer suspeita em nossa sociedade. O comportamento criminoso, que se define pela incapacidade de respeitar os direitos alheios, mostrando sua necessidade de violar as normas sociais, prevalecendo sua falta de remorso e a indiferença pelo sentimento do outro. Gacy sempre matou pelo próprio prazer, tinha o prazer de torturar suas vítimas. Freud (1969) mostrou, no decorrer do “O Mal-estar na Civilização”, que o potencial de destruição é algo da própria natureza humana, que o ser humano é inclinado ao mal e que atos perversos são próprios de nossa organização.
O
indivíduo que comete estes delitos geralmente adota um comportamento cruel, possui
baixa tolerância à frustração e desprezo por normas e regras, além de
demonstrar um alto nível de impulsividade. O transtorno anti-social segue um
padrão de desconsideração que pode iniciar na infância ou no começo da
adolescência, e continuar a se manifestar na idade adulta. Estes indivíduos
usam as pessoas para chegar a um objetivo, são verdadeiros atores, seguindo
três objetivos básicos: poder, status e prazer.
O livro “Killer Clown - Retrato de um assassino” traz uma temática investigativa, onde é narrado pelo promotor “Terry Sullivan” e o
jornalista “Peter Maiken” que trazem com mais detalhes toda história dos
assassinatos, realizando um passo a passo dos crimes cruéis que Gacy cometeu em
quase sete anos. Já o filme “Gacy” (2003), conta a história de
John Gacy, como um dos maiores psicopatas que a história norte-americana já
conheceu, ele matou mais de trinta jovens, e os deixava no porão de sua casa,
jamais levantando qualquer suspeita de alguém.
Essa história ganhou uma projeção mundial em todos os canais de
comunicação, vindo a ser considerado um dos mais famosos assassinos em série de
todos os tempos, e sendo assim a cultura pop não deixou por menos. Hoje temos
inúmeras matérias sobre esse assunto, que tem o alcance em filmes, revistas,
reportagens, matérias especiais, blogs, sites, canais no you tube e até
podcats.
O palhaço assassino, John Wayne Gacy Junior, nasceu em 1942, em Chicago, nos Estados Unidos.
Fantasiava-se de palhaço em festas e era membro do Conselho Católico e da Defesa Civil. Ele
atraía as vítimas para sua casa com promessas de emprego em construção civil
ou pagamento em troca de sexo. (NEWTON,
2008) Começou a matar perto
de fazer 30 anos. Suas vítimas eram sodomizadas,
torturadas e mortas, geralmente
sufocadas ou estranguladas. Algumas vezes vestia-se como seu alter-ego, o
palhaço Pogo, e/ou lia alguns trechos da Bíblia em voz alta, enquanto torturava suas vítimas eleitas.
Foi graças ao forte odor emanado de seu porão que a polícia descobriu 28 corpos
embaixo de sua residência, e outros cinco corpos ao redor de sua casa. Foi
executado por injeção letal em 10 de maio de 1994. John Wayne Gacy Junior dizia: “Um palhaço pode ‘se
sair’ só como um palhaço”. (CASOY, 2004, p. 283)
O tema assassino em série, mesmo nos
dias de hoje tem aparecido com mais frequência na mídia, sendo temas de séries,
quadrinhos e filmes. Algumas pessoas ainda hoje, de forma absurda, pensam que
esse tema é “coisa de cinema”, mas se pesquisarmos sobre o assunto, percebermos
que esse mal já assola nossa sociedade desde o século XIX, onde as ruas de
Londres foram aterrorizadas com um assassino intitulado Jack, o estripador. E
de lá para cá podemos enfileirar vários nomes como Adolf Hitler, Unabomber,
Zodíaco, John Gacy (nosso personagem de estudo) Ted Bundy, Ed Gein e Jeffrey
Dahmer (esses dois últimos as tendo inspirado o filme consagrado “Silêncio dos
inocentes”). Chegando até mesmo na realidade brasileira com Marcelo Costa
Andrade, mais conhecido como “Vampiro de Niterói” e o motoboy estuprador
“Maníaco do Parque”.
Levando
em consideração que criminalidade é um fator social, não podemos esquecer que
crueldade é outra realidade, e no caso do assassino em série, ele sabe o que
faz, como faz e com quem faz. Podemos dizer que o indivíduo com esse tipo de
transtorno é totalmente razão e nada de emoção. Seus delitos vão aumentando
consideravelmente, até transpor a barreira limite, e assim satisfazer suas
fantasias mais extremas e insaciáveis, cometendo seus atos criminosos de tempos
em tempos, satisfazendo assim suas vontades pessoais.
O
comportamento cruel desse indivíduo, demonstra total falta de empatia com os outros,
deixando um rastro de destruição por onde passa. Não esquecendo que, no tempo
em que “John” ficou preso esperando sua sentença, ele se dedicou a
pintura artística, pintou personalidades famosas – como Al Capone, Charles
Manson, John Dillinger e Hitler -, mas o tema principal de suas pinturas sempre
foram os palhaços. E acabou vendendo
alguns por valores bem altos, se tornando um sujeito na época muito popular e
até cultuado por algumas pessoas. Dê maneira inacreditável, suas pinturas
foram exibidas em várias galerias norte-americanas, onde os valores giravam em
torno - de US$ 100,00 a US$ 20.000,00 – para adquirir uma tela do assassino em
série. O Serial Killer Gacy chegou a receber um lucro de US$ 140.000,00
por suas obras vendidas.
Casoy (2004) faz uma distinção,
que pode ser considerado um aspecto classificatório entre os psicopatas: os
chamados psicopatas organizados e
os desorganizados. Segundo suas observações, os assassinos
organizados têm uma inteligência média para alta, são astutos, sexualmente
competentes, trazem sua arma e instrumentos que vão usar no delito, entre
outras características; já os desorganizados têm inteligência abaixo da média,
um distúrbio psiquiátrico grave, são sexualmente incompetentes, sempre deixam
as cenas dos crimes desorganizadas e selecionam suas vítimas por acaso,
diferentemente dos organizados.
Quanto ao modus operandi,
Casoy (2004) estabelece que seja determinado, observando que arma foi utilizada
no crime, o tipo de vítima selecionada e o local escolhido. O modus operandi
é dinâmico e maleável, na medida em que o infrator ganha experiência e
confiança, diferente da assinatura do agressor em série, que é sempre única,
como uma digital, e está sempre ligada à necessidade do serial em cometer o
crime.
O comportamento instintivo dos assassinos em série é
sempre muito evidente. Comportando-se como animais, praticam seus atos por
impulsos irresistíveis, sem qualquer tipo de emoção, conflito ou mesmo culpa.
São predadores que de tempos em tempos vão à caça, em intervalos de tempo que
dependem muitas vezes de sua necessidade de matar. Costumam ser metódicos e
quase nunca cometem erros, pois sabem das consequências que esse tipo de
conduta pode ocasionar. (CASOY, 2004)
Esse tipo de assassino segue sempre
uma forma de cometer seus crimes, pratica seus assassinatos das mais variadas
formas possíveis, mostrando muitas vezes o que o ato de matar alguém representa
para ele. Suas vidas acabam girando em torno dos crimes, verdadeiras obras do
mal. Acabam se comportando sempre descontroladamente, tipo uma “locomotiva” desgovernada,
ignorando leis e regras sociais que são necessários para se viver em harmonia
na sociedade. O Serial Killer se
encaixa na classe de indivíduos que nascem para fazer o mal, sem a capacidade
de se colocar no lugar do outro, mas que conseguem passar despercebidos em
sociedade, sendo verdadeiros “camaleões” que só são descobertos depois de sua
obra do mal estar pronta.
Marcelo Ávila Franco
CASOY, I. Serial killer, louco ou cruel? 2. ed. São Paulo: WVC, 2004.
______. Serial killers, made in Brazil. 2. ed. São Paulo: WVC, 2004.
FREUD, S. O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1969. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud; v. XI).
NEWTON, M. The Encyclopedia of Serial Killers.
New York: Checkmark Books,
2008.
SAUNDERS, C. Gacy.
EUA: DEJ Productions, 2003.