Em
tempos de crise e escassez de recursos, podemos identificar outra problemática
que persiste em atravessar os tempos em nossa sociedade, “O homem massa”. Segundo
José Ortega y Gasset, “Massa é o conjunto de pessoas a que podemos denominar
homem médio”, caracterizando-se como um coletivo no qual cada homem não
valoriza a sua individualidade, tendendo a fazer o que os demais estão fazendo
de forma pouco ou nada racional. Dada sua definição, podemos com facilidade constatar
que atualmente vivemos num mundo de massas, caracterizadas por serem qualitativas
e vulgares. Os indivíduos constituintes destes coletivos são egoístas e
egocêntricos, pois se consideram importantes na sociedade, mesmo não tendo uma
opinião formada sobre as questões que movem nossa sociedade, tais como as
relacionadas à política, por exemplo.
Nessa teoria de comunicação, o homem massa não enxerga o
poder de comunicação que teria em suas mãos, caso tivesse uma opinião formada.
Ele está na multidão apenas por estar lá, e isto por si só para ele passa de
meio a fim, tamanha a satisfação que o faz sentir-se o máximo simplesmente por
estar inserido em uma multidão. Ele não se importa com o porquê de estar ali, por
qual razão segue tal comportamento, e neste ponto reside o perigo de sua
existência em ampla escala. Mas precisamos separar alguns pontos, pois podemos identificar
um indivíduo na multidão e ele não fazer parte da “massa”. Dada esta sua
essência qualitativa, podemos distinguir o que acontece, por exemplo, quando se
está em um campo de futebol, momento no qual o indivíduo estaria apenas
partilhando gosto ou afinidade em comum. A massa tem por outra característica
importante o caminho da vulgaridade, uma vez que o indivíduo se conforma com o
que já tem ou mesmo não tem. Não é uma divisão de classe, e sim de homem. Ressalte-se,
devido a este aspecto, o perigo das massas. O indivíduo que ousa questionar os
porquês da atualidade pode ser eliminado, sendo visto como uma ameaça apenas
por pensar, e digo apenas pensar mesmo e não por pensar diferente, pois o homem
massa rechaça a possibilidade do questionar e pensar, ele apenas aceita o que
lhe é imposto.
A massa hoje está muito presente nas redes sociais, nas
quais os indivíduos apenas saem a curtir o que está na moda ou mesmo
compartilhar um determinado tipo de assunto apenas porque todos estão fazendo. Se
questionarmos esse indivíduo, ele não tem um porque de estar seguindo esse
processo, apenas é parte da massificação de indivíduos alavancada hoje pela
mídia eletrônica, que propicia a disseminação de massas de forma exponencial,
dado seu vasto e rápido alcance. Não são poucos os exemplos de momentos na
história que proporcionaram as condições ideais para o surgimento de grandes
massas, mas certamente na atualidade quem lidera esse fenômeno são as mídias de
grande alcance.
O individuo que não se questiona, repise-se, é um perigo,
pois basta uma informação para ele sair desesperado a fazer o que está sendo
recomendado em qualquer noticiário, sem antes consultar um profissional da área
e verificar se a informação transmitida está correta. Já dizia Freud: o
indivíduo neurótico pensa a si mesmo, e nisso podemos pensar até mesmo nos
suicídios.
Pergunto:
onde está a direção certa, qual o ponto de partida para melhorar nossa atualidade?
É esse o tipo de indivíduo que queremos para nossa sociedade? Um indivíduo que
não questiona o outro e nem a si mesmo? Que simplesmente aceita tudo que é
imposto? Que nas eleições vota em um candidato pelo lindo corte de cabelo?
Nosso país tem condições de mudar esse quadro, mas, para isso, é fundamental
valorizar nossa educação, pois é só com educação que um país evolui
intelectualmente e forma verdadeiros cidadãos. Assim, certamente podemos
concluir que o ponto de partida para a desejada mudança nascerá no momento a
partir do qual retribuirmos ao professor seu devido valor, enquanto cidadão a
quem incumbe o nobre papel de moldar e disseminar a cultura, transmitindo
conhecimento às futuras gerações de brasileiros.
Marcelo Franco