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Red Hot Chilli Peppers é uma banda californiana que faz uma mistura basicamente de rock com funk, eventualmente acrescida de outras esquisitices que deram muito certo. Desde o primeiro disco eles deixam claro qual a intenção musical do grupo e o som marcante do contra-baixo da banda se torna uma marca característica das suas composições. Todavia, desde os primórdios da sua trajetória musical o RHCP se torna também conhecido pelos problemas relacionados ao envolvimento de alguns de seus integrantes com drogas pesadas. Este aspecto acaba por dificultar a consolidação musical dos “Peppers”, pois de certa maneira as drogas acabam acarretando a maior parte das turbulências havidas no relacionamento pessoal entre os músicos, dificultando - e até inviabilizando - a convivência da banda em diversos momentos ao longo da carreira.
Os Peppers lançam o primeiro álbum em 1984, intitulado “Red Hot Chili Peppers”, trazendo uma sonoridade bem mais inclinada para o funk, mas não deixando de ser uma banda de rock. O curso musical da banda segue, mas consequências do uso exacerbado de drogas acabam por acarretar atraso no crescimento dos caras e a formação inicial da banda já começa a sofrer alterações em seus integrantes por desentendimentos havidos, ora em decorrência de incompatibilidades musicais ora pelo então já conhecido envolvimento de músicos com drogas pesadas. Já no segundo álbum, intitulado Freaky Styley (1985), as drogas começam a estremecer as relações dos “Peppers”, mesmo tendo como produtor George Clinton, um conhecido produtor e músico norte-americano (nada mais nada menos que o linha de frente de Funkadelic e Parliament). Na fase desse álbum, o vocalista Anthony Kiedis e Hillel Slovak se envolvem com heroína, e as dificuldades começam a transparecer. Apesar disso, o Red Hot Chili Peppers segue a carreira e lança “The Uplift Mofo Party Plan (1987), um dos melhores álbuns na minha opinião. Uma peculiaridade deste álbum é que eles estão com a formação original da banda, quis o destino que os integrantes originais se juntassem novamente e voltassem a tocar juntos para fazer esta obra prima do chamado “Funk- Punk”. Mas o destino também reservava um infeliz fato que deixaria marcas para sempre na carreira da banda. Com o grupo ficando conhecido no cenário musical, eles são convidados para uma turnê na Inglaterra e os “Peppers” seguem deixando sua marca com sua sonoridade de banda punk misturando rock alternativo com pitadas de rap e funk, uma verdadeira salada musical, mas com muita qualidade sonora. Mas um fato marca a trajetória da banda: o guitarrista Hillel Slovak de apenas 26 anos, então dependente do uso de heroína, sofre uma overdose da substância, causando sua morte, tendo sido encontrado sem vida em seu apartamento na Califórnia, no dia 27 de junho de 1988. Neste momento, a banda acaba dando um tempo nos trabalhos para tentar se recuperar da tragédia, que serviu de alerta para o vocalista Anthony Kiedis, também dependente da mesma substância, que aproveita o momento para buscar auxílio em relação ao vício. Infelizmente, por um imenso número de motivos e situações, muitos músicos, por diversos motivos e situações, acabam se entregando a este tipo de vício, deixando-se influenciar pelos efeitos momentâneos das drogas. Porém, as consequências maléficas, muitas vezes irreversíveis, com frequência fazem o mundo musical perder ídolos.
Após esta parada, o RHCP retoma as atividades e, apesar de todas dificuldades enfrentadas, eles voltam com força total e lançam o álbum icônico Mother’s Milk (1989), recheado de hits e mostrando que a banda segue forte para prosseguir na carreira. Para gravar as faixas deste álbum, recrutaram como produtor musical o famoso estadunidense Rick Rubin e, para o posto de guitarrista, o jovem John Anthony Frusciante, de apenas 19 anos, mas com muito talento. Com o lançamento deste álbum o grupo ganha grande destaque na mídia mundial, realiza muitos shows e tem a carreira consolidada de forma incontestável, alcançando números impressionantes. Entusiasmados com o grande sucesso do álbum, o RHCP segue para a produção do próximo Lp, Blood Sugar Sex Magik (1991), que repete o sucesso do disco anterior. Com isso, surgem muitos grandes shows, com turnê visitando grandes estádios de muitos países. Mas com o sucesso também aparecem outros problemas, e John Frusciante resolve sair da banda, apesar de estarem vivendo o momento de maior fama e sucesso até então. Segundo ele, o tão desejado sucesso e a consequente quantidade de shows em sequência não estava mais fazendo sentido. Porém, Frusciante ao sair da banda se entrega totalmente ao vício da heroína, e, apesar de conseguir gravar alguns álbuns em carreira solo, fica depressivo e conhece a ruína, inclusive financeiramente, por não conseguir superar o vício neste momento.
Sem Frusciante nas guitarras, o RHCP não tem outra alternativa a não ser seguir em frente e procurar outro guitarrista. Ao longo da carreira da banda muitos guitarristas passaram pelo posto: Arik Marshall, David Navarro (Jane’s Addiction), Josh Klinghoffer, Jack Sherman, John Frusciante, DeWayne McKnight, Jesse Tobias e, claro, Hillel Slovak. Parece que o rodízio no posto de guitarrista sempre foi um problema para a banda, seja por diferenças musicais ou pelo uso de drogas pesadas.
Em 1995, “One Hot Minute” é lançado com a formação da banda tendo Anthony Kieds nos vocais, Flea no contra-baixo, Dave Navarro nas guitarras e Chad Smith nas baquetas. Seguem os shows, ensaios, divergências internas e, claro, as confusões causadas em consequência do consumo de drogas pesadas, principalmente heroína. Nesta época, o guitarrista Dave Navarro e o vocalista Anthony Kiedis, em razão do consumo de heroína, começam a sumir sem dar satisfação à banda, deixando os outros integrantes em situações difíceis e muitas vezes sem saber o que fazer diante dos compromissos agendados. Com isso, a banda resolve dar um tempo nas atividades, cuidar de sanar a origem dos problemas e retomar apenas após uma reabilitação dos integrantes.
Após mais essa parada, por volta de 1998 a banda retoma as atividades, com o retorno do guitarrista John Frusciante, reabilitado das drogas, como o vocalista Anthony Kiedis. E desta nova retomada lançam o álbum “Californication” em 1999, no qual os “Peppers” emplacam mais sucessos que rendem novamente inúmeros grandes shows. E ainda com esta formação lançam os álbuns “By the Way” (2002) e “Stadium Arcadium” (2006). A banda segue a vida tentando ficar distante das drogas, gravando álbuns e realizando ótimos shows.
Infelizmente muitas bandas se deparam com este mal da sociedade que são as drogas, um problema mundial que se faz presente em nosso cotidiano através dos tempos e por múltiplos fatores. É necessária a adoção de políticas públicas e campanhas massivas que fomentem esclarecimento e discussões para prevenção do uso de substâncias psicoativas, que além de ilegais são muito prejudiciais à saúde. Embora o tema seja um assunto que gera muitas discussões e se torna sempre extremamente delicado devido à complexidade das realidades e subjetividades envolvidas, precisamos não deixar esta discussão de lado, pois acredito que a discussão e o esclarecimento que se obtém através da divulgação de conhecimento e informações constituirão sempre o melhor caminho para superarmos qualquer tipo de dificuldade que nossa sociedade tenha que enfrentar.
Sou um fã confesso dos RHCP, tenho em minha coleção, dois Lp’s, quatro Cd’s e três Fita Cassetes (isso mesmo fitas cassetes). Neste ano de 2023 o RHCP vai se apresentar em Porto Alegre após 20 anos, mas infelizmente não vou ter a satisfação de poder assistir esse show, que com certeza será singular e “supimpa” (gíria muito antiga kkk). Mas certamente já tenho a satisfação de saber que essa baita banda vai estar tocando em terras gaúchas, apresentando o melhor do seu repertório e com a energia de sempre. Go ahead, Red Hot Chili Peppers!!!
Marcelo Franco