segunda-feira, 12 de junho de 2023

O amar não é perfeito, mas o começo de um romance imperfeito para a vida toda.



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         Desde as primeiras horas da manhã do dia 11/06 eu já estava incomodado, pois queria escrever um post novo para o blog, e não me vinha nada à cabeça, então lembrei que no próximo dia seria dia dos namorados, e alguém vai dizer: como esquecer do dia dos namorados? Pois é, esqueci!!!! Mas escrever sobre o amor é algo desconfortável para mim. Alguns vão estranhar, pois já escrevi sobre esse tema em outros momentos, mas eram outros momentos, bem diferente do que estou vivendo agora. Mas, vamos lá, resolvi escrever sobre a data em questão, deixo a vontade para o leitor chamar a temática do texto como achar melhor, “Dia dos namorados”, “Sobre amor”, “Relacionamentos”, "Valentine 's days” (mas neste caso a data seria outra, mas deixa pra lá), Sid e Nancy,  etc.

Pensando em amor, logo me vem à cabeça o psicanalista francês Jacques-Marie Émile Lacan, que coloca que “amar é dar o que não se tem a alguém que não o quer”. O que Lacan quis dizer nesta frase? Sei que aqui já começo a repensar se o texto foi uma boa ideia kkkk, mas gosto de usar as palavras para provocar essas reações. Mas voltando ao pensamento de Lacan, ele apenas nos lembra que não nos tornamos felizes no amor simplesmente por estarmos amando, pois o amor é uma ilusão, o que se enxerga no outro são apenas formas de satisfazer necessidades e carências de maneira mútua. Aqui nada mais que uma troca, onde dá o que o outro não tem e o que você não tem o outro lhe proporciona. Não quero entrar numa discussão psicanalítica, mas como apreciador dos escritos de Lacan, não poderia deixar de trazer esse pensamento, agora acredite ou não, creio que o amor é isso. 

Amar alguém nunca será fácil, se relacionar com outra pessoa de maneira amorosa sempre será um túnel escuro, pois não sabemos o que encontraremos lá, pois quando se está enamorado ou acometido pela paixão ficamos bobos e enxergamos as situações de maneira distorcida, e todo aquele no qual estamos investindo emocionalmente é perfeito, é lindo, é prazeroso de se contemplar, entre outros adjetivos que me fogem à memória neste momento. Gostar de alguém, quer queiram ou não, tende a ser isso. Essencialmente no início, não enxergamos ou minimizamos os defeitos, pois as pessoas ficam hipnotizadas, tais quais “zumbis do amor” (tudo é lindo, mas tudo mesmo, até o que não é).



Agora, pensando na data chamada dia dos namorados, sou muito crítico de forma negativa. Questiono os exageros que a mídia faz com uma data que no Brasil foi criada por um presidente de uma empresa publicitária, visando apenas alavancar as vendas no mês de junho (não vou citar o nome do mesmo, mas procure no google e vai encontrar quem é). Com isso, este publicitário criou o slogan “não é só com beijos que se prova o amor”. E assim nasceu a data dos dia dos namorados em terras brasilis, "romântico”, não? Pois é, mas desde então as pessoas em geral atribuem  uma enorme importância à data, gastando valores altos para demonstrar o quanto gostam de alguém, sem contar a necessidade de demonstrar para a sociedade o quanto ela é capaz de gastar para provar o seu amor. Hoje infelizmente, o amor é medido não por sentimentos e sim por valores concretos. Ok, entendo que neste ponto do texto muitos vão me deletar, cancelar ou até mandar tocar fogo como na era das bruxas da idade média. Entendo que a sociedade atual está encruada pela hipocrisia e não consegue dar o real valor sobre o gostar de alguém. Esquecemos de demonstrar o bom sentimento por alguém em qualquer dia do ano, sem que seja necessária uma data específica para que possamos de fato valorar o quanto gostamos de uma pessoa. Gestos como um abraço, um beijo, um telefonema no meio de um dia qualquer do ano (hoje um wats), uma rosa comprada aleatoriamente de um ambulante em um semáforo ou um simples lembrar que estar ao seu lado todos os dias é ótimo (em qualquer horário do dia), e tantas outras atitudes simples que são de enorme importância em uma relação. 

Esqueça o dia dos namorados, lembre de quem você gosta e demonstre todos os dias (ou quase todos os dias) do ano, pois não será apenas em uma data que você vai demonstrar o valor do amor. E não perca tempo com presentes caros, envie um whats agora para quem você gosta, e diga o quanto ela ou ele é importante para você, garanto que se você realizar este ato todos os dias, a data do dia dos namorados será apenas uma data e o valor do relacionamento será outro. Vale o registro de que o amor não tem fórmula ou medida e de que os brutos também amam, sendo tão capazes da real entrega ao amor quanto os mais reconhecidamente românticos, afinal como já dizia Oscar Wilde “Amar é ultrapassarmo-nos” !

Marcelo Franco

segunda-feira, 5 de junho de 2023

Notas de um velho bairro cotidiano - Bom Fim dos 80/ 90

 


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Bom Fim foi um dos bairros mais importantes de Porto Alegre, e se não foi o mais importante foi o mais emblemático, com certeza. Falar do bairro Bom Fim é retornar ao passado, relembrar os tempos áureos dos anos 80/90, onde se tinha mais sentido nas atitudes e honestidade na cultura social. Onde a rebeldia se mostrava mais consciente ou ao menos tentava. 

Os anos 80 foram um verdadeiro divisor de águas, uma época em que a cultura era muito valorizada, onde livros e discos eram cultuados e recebiam o seu devido valor. Mas voltando ao bairro Bom Fim, podemos relacionar a rua Oswaldo Aranha, onde as noites de boemia aos sábados eram um verdadeiro santuário de muitas tribos: punks, hippies, metaleiros (headbangers), góticos (Darks), skaters, new waves, músicos, galera do teatro e do cinema, poetas, filósofos, fotógrafos, simpatizantes, curiosos e todo tipo de indivíduo que tinha um gosto singular se juntava para descontrair e trocar ideias.

Chegar na Oswaldo Aranha e ir aos botecos da época constituía um momento certeiro para se deparar com algum músico das bandas gaúchas. Wander Wildner, Edu K, Nei Lisboa, entre outros, eram figuras carimbadas da conhecida Oswaldo Aranha. Inúmeras peculiaridades se faziam presentes neste reduto, mas uma que chamava muito a atenção era a situação de se deparar com uma Igreja de um lado, um posto da polícia do outro e logo mais adiante um quartel general do exército, e os “malucos” tomando conta das noites porto alegrenses (isso sim era realmente algo surreal), e ainda podemos dizer que todos vivendo em harmonia (ou tentando ao menos kkk).



A peculiaridade era tanta que chegava a se ver em um bar chamado “Bar João”, potes de vidro com cachaça dentro, que ficavam expostos em uma parede, contendo cobras e escorpiões dentro, passando por sabores que iam do funcho a uma cachaça de cor amarelada (confesso que nunca vi alguém pedir um desses para tomar). Seguindo neste quesito temos os nomes de bares, que pelo meu bairrismo, duvido existir um lugar com nomes tão únicos e surreais, seguem os nomes: Edgar Alan Porre, Bar João, Lancheria do Parque, Escaler, Bar Fim, Bar Ocidente (este resiste até hoje), Lancheria do Lola,  Boccaccio, Fedor, Luar Luar, foram bares que  marcaram o Bom Fim da época de 80.



Essa imensa lembrança em um curto relato trago neste texto, é apenas uma ponta do iceberg do que realmente era ou mesmo representava o movimento no bairro Bom Fim. Fosse eu relatar todas as fases da época 80/90, seria necessário escrever um livro de quinhentas páginas. Seria necessário contar sobre o que nem mencionei, como o bar conhecido como ‘Pé sujo” na esquina chamada de “Esquina maldita”, um combo acompanhado de representações que refletiam a ditadura e repressão da época, o medo de possíveis revoluções que assombravam os supostos ditadores e fascistas, e nos quais estudantes e movimentos culturais se aglomeravam para discutir e debater sobre movimentos beatniks e seus representantes. 

 Os protestos eram como o nascer do sol, aconteciam todos os dias e de todas as formas, onde as resistências eram oceânicas, e fanzines e jornais eram uma das formas de se levar as ideias para se confrontar a ditadura e o fascismo que eram fortemente presentes na época. Nisso me vem à lembrança o tal “toque de recolher” que determinava que à meia noite todos deveriam se recolher e ir para suas casas, mas isso não foi empecilho para o “movimento” que ia contra tudo e contra todos achar uma maneira de quebrar essa regra. E os confrontos que eram inevitáveis, não aceitavam as represálias, e muitas vezes acabavam em agressões e prisões.

O Bom fim era isso e muito mais, e tentar descrever esse movimento é algo muito difícil, só quem viveu sabe o que foi esse momento, e descrever isso é quase impossível. Só posso tentar dizer, em uma gíria gaúcha, que o Bom Fim foi “Tri massa” ou, ainda, que segue sendo atualmente, ao menos para os que viveram esta época.

Marcelo Franco

Fotos retiradas da internet
*1 Bar João
*2 Bar Escaler
*3 Lancheria do Parque

Haicais em Cidreira

HAICAIS VeJo senTido no Meu desaPreÇo, Saudades No meU deSapeGo, Apego nO meU reCoMeçO. aManheCeu Em maiS Um diA. Olhos CanSados aPós noiTe ...