.
Os efeitos sonoros transmitidos pela música feita pela banda Joy Division não compactuam com a tradução de seu nome que significa, literalmente, “divisão alegre”. O grupo lança sobre os ouvintes efeitos sonoros em geral melancólicos e em certos momentos até mesmo sombrios e nebulosos. O Joy Division é um marco na música mundial. Nascido em 1976 na cidade de Manchester, o novo estilo de música influenciou tantos outros grupos importantes. Mas você deve estar se perguntando, sobre o que tem a ver depressão com esta importante banda e a resposta tem a ver com um integrante em específico, um indivíduo emblemático e com um comportamento mais representativo ainda. Ladies and gentlemen, este indivíduo é o Sir Ian Curtis, o frontman da banda pós-punk Joy Division, cuja curta mas intensa trajetória é tão marcante quanto o sucesso da banda.
Ian era um jovem rapaz que se casou muito cedo e amou intensamente sua também jovem esposa. Curtis foi o primogênito de dois filhos do casal Kevin e Dooren Curtis. Ian Curtis era um dos principais compositores da banda Joy Division e suas letras impunham as típicas temáticas melancólicas e depressivas que eram embaladas por acordes inovadores. No início de sua vida o jovem Ian já demonstrava interesse por filosofia e literatura, foi um leitor de Kafka, Dostoiévski e Sartre, e era um apaixonado por poesia moderna.
Mas infelizmente Ian Curtis tirou a própria vida em 18 de maio de 1980, quando ele tinha apenas 23 anos. O vocalista do Joy Division já estava doente há bastante tempo, mas ninguém notava, até mesmo porque o próprio Ian se negava a falar sobre suas dificuldades emocionais. Nesta data, que marcou uma das maiores perdas para a música mundial, os demais integrantes da banda - Bernard Sumner (guitarrista), Peter Hook (baixista) e Stephen Morris (baterista) - além de perderem o vocalista e amigo, viram o futuro do Joy Division ruir, pois, ao meu ver, o Joy Division sem Curtis não existe. Ian cometeu suicídio pouco antes da banda entrar em turnê, fato que nos reforça a ideia de que a sombra da depressão já estava presente ali há algum tempo. Na época, importante frisar, uma das questões que o afligiam era a relacionada às consequências da carreira que prosperava, mas impunha constante afastamento da esposa que amava. Esta era uma das aflições que, somada a outras condições, o atormentavam de maneira implacável e fizeram Ian Curtis tirar a própria vida.
O jovem vocalista dançava de forma frenética nos palcos, uma maneira que chamou a atenção e que muitos tentaram imitar, mas sem o mesmo êxito do eterno vocalista do Joy Division. A banda pioneira do pós-punk deixou uma forte marca na história da música, com suas melodias melancólicas discorria sobre um cotidiano depressivo e introspectivo que pairava na época. A banda gravou apenas dois álbuns de estúdio na época, o Unknown Pleasures (1979) e Closer (1980), o restante dos registros são coletâneas e singles que foram sendo lançados após a morte do vocalista.
Podemos dizer que a depressão é uma doença silenciosa, ela chega como uma sombra e sem avisar, mas se prestarmos bem a atenção ela se faz presente. Mas o que nos leva a não notar a sombra de uma depressão? Ian vivia uma vida complicada, era um indivíduo que se mostrava sensível e sem forças para lutar contra o silêncio da depressão. Essa doença não respeita fronteiras, é um mal que assola a população mundial, sem escolher cor, raça, credo ou até mesmo o estilo de vida que se leva, bastando um sopro para ela se fazer presente. E com Ian Curtis não foi diferente, acometido pela depressão, ele sofria com as alterações de humor, e uma profunda tristeza, associada aos sentimentos de baixa autoestima, desesperança, amargura, irritabilidade, angústia, apatia, falta de motivação, entre tantos outros sintomas associados à depressão. Não podemos esquecer de aqui mencionar que tristeza é um sentimento temporário e decorrente de algum acontecimento difícil de enfrentar, em geral relacionado a dificuldades financeiras, desentendimentos com cônjuge, familiares ou amigos, etc. Mas diante dele em geral encontramos uma maneira de superar as dificuldades e seguimos nossas vidas. Porém em um quadro depressivo, como no caso de Ian Curtis, o humor permanece deprimido de forma contínua, e o indivíduo não encontra forças para se livrar dessa dor e a vida se torna um tormento que parece eterno. Mesmo por vezes sem ter um motivo aparente, a depressão pode se instaurar e o sorriso desaparece, a alegria se transforma em obscuridade, os dias se tornam cinzas e a depressão mostra sua face. Ian Curtis encurtou a própria vida, mesmo sendo acompanhado por profissionais e sendo medicado, Ian sucumbiu diante dessa doença traiçoeira e silenciosa.
Do lado musical, ficam os ótimos registros da banda, nos quais podemos conferir a maneira frenética de Curtis dançar, parecendo estar tendo espasmos ao vivo. Acerca desta característica própria, não se pode deixar de mencionar que Ian convivia também com a epilepsia, moléstia que tornava o viver ainda menos fácil para o jovem músico.
Joy Division apesar de muito breve foi um marco para a música, um começo de uma nova geração e que segue influenciando descendentes até os dias de hoje. Curto demais Joy Division.
*Joy Division - Unknown Pleasures. A biografia definitiva da cult band mais influente de todos os tempos.
*Tocando a Distância: Ian Curtis e Joy Division.