Em nossas vidas o nascer e o morrer pertencem da mesma forma na vida de uma pessoa. São como se fossem pesos de uma balança: são como extremidades, pontos que nunca se cruzam, pólos que conduzem manifestações de todos os seres humanos. Quando um indivíduo entra em estágio terminal, os profissionais direcionam esse paciente. Há um cuidado sem sofimento, dispensando a utilização de métodos inavasivos de prolongamento da vida, sendo a intenção principal e primordial a de não o adiamento da morte e ao mesmo tempo não provocá-la. Como o objetivo é de minimizar o sofrimento e a morte do paciente vai ocorrer dentro de uma situação de terminalidade da vida, são interrompidas medidas extraordinárias, reconhecendo-se que existe uma condição humana de mortalidade e que o conhecimento médico atual também é limitado. A ortotanásia ainda nos dias atuais é sempre vista como uma forma de não investimento na vida de um paciente, mas a obstinação terapêutica seria ralmente a saída para pacientes com doenças terminais? Analisando por outro ângulo, poderíamos verificar como algo inútil e desnecessário, e apenas estaríamos prolongando um morrer. Todo ser humano tem o direito de morrer sem sofrimento, a morte sempre traz dúvidas, e quando se diz "deixaram morrer" se pensa que não se investiu naquela vida. Ortotanásia é a arte de morrer bem, de forma humana e correta, sem abreviar a vida, e melhor, sem prolongar o sofrimento. De alguma forma a medicina é colocada frente a um dilema, estaria prolongando um morrer ou savando vidas?
A medicina deve sempre buscar tratar o doente, e não a doença, dando um maior valor a vida, deixando de lado as terapêuticas invasivas. Neste contexto, torna-se necessário pesquisar o tema em questão, para promover um melhor entendimento do assunto entre os profissionais da área e ao mesmo tempo desmistificar esse assunto que ainda é um tabu em nossa sociedade. Quando o profissional da saúde tem uma melhor compreensão do tema, além de trazer o significado da representação social de morte no contexto cultural, a ortotanásia é entendida como uma forma natural de morrer.
A denominação de ortotanásia é atribuída ao professor da Universidade de Liege na Bélgica, Jacques Roskam. Segundo ele, existiria uma possibilidade de morte justa, entre eutanásia e a obstinação terapêutica. A palavra ortotanásia, que tem sua origem no grego (orto: certo, thanatos: morte), pode ser considerada como a "filosofia da boa morte", representando a morte do indivíduo no momento certo. Focando na adesão de procedimentos paliativos, buscando de alguma forma sempre o controle da dor, esse processo opta por descartar, ou mesmo restringir, tratamentos invasivos e agressivos que tentam adiar o fim da vida, a fim de não comprometer a qualidade de vida do paciente, que deveria estar sempre em primeiro plano. Podemos dizer que a ortotanásia, de forma simples, seria o meio-termo do nem antes, como ocorre com a eutanásia, e nem depois, como no caso da distanásia.
Questões fundamentadas na promoção do bem-estar físico, espiritual, psicológico, bem como éticas, são de suma importância para que o paciente sinta-se não apenas como um objeto nas mãos de terapêuticas inúteis, respeitando assim sua dignidade e autonomia, diminuindo as dores e os sofrimentos impostos no processo de morrer. Na tríade entre profissionais, família e paciente sempre existirá a necessidade de um suporte emcional, pois nesse contexto todos sentem a perda de uma vida, e podem vir a desenvolver uma forte depressão ou mesmo um luto patológico. É preciso aceitar que a morte faz parte de nossas vidas, e precisamos enxergá-la, como se fosse uma companheira que nos ronda a todo instante e não nos pede licença para entrar em nossas vidas.
A morte é uma realidade vivenciada diariamente no contexto hospitalar e a ortotanásia é a maneira de aceitar o fim de nossas vidas. É o momento em que o paciente não tem mais chances de se curar e a medicina suspende o tratamento, respeitando sempre a vontade deste paciente, ou mesmo seu representante legal. Nesse momento, visando a qualidade de vida do ser humano, a medicina realiza apenas formas terapêuticas, evitando que o paciente sofra, visando a morte no tempo certo, podendo o enfermo escolher entre manobras tecnológicas que de alguma forma irão apenas prolongar a sua vida, porém, por outro lado, poderão também prolongar seu sofrimento.
Marcelo Franco
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