quinta-feira, 11 de julho de 2024

Morrendo em Cuidados Paliativos

 

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Cuidado paliativo teve seu início na Inglaterra, em meados de 1967, através do desenvolvimento de ações voltadas a proporcionar aos pacientes que não apresentavam mais possibilidades de cura, um cuidado mais refinado e com mais dignidade. A precursora deste tipo de cuidado foi a (assistente social, enfermeira e médica) Cicely Mary Strode Saunders, que demonstrou uma sensibilidade com aqueles que estavam vivenciando a morte de perto, compreendendo o paciente como um todo e não somente como uma parte de um processo.

A palavra “paliativa” se origina do latim pallium que tem como traduçãomanto”, que traz o significado de proteção, amparo, cobrir, justamente no momento em que a cura não mais existe. Além disso, pallium são vestimentas usadas pelo Papa, revelando ainda uma forte conexão desta condição com a espiritualidade e o sagrado. Podemos dizer que os cuidados paliativos trouxeram uma forma mais humanitária de cuidar o paciente, aliando conforto através da priorização do alívio para sua dor e sofrimento. Geralmente uma equipe de cuidados paliativos não é composta por indivíduos de uma mesma profissão, e sim por várias profissões, que constituem a denominada equipe multidisciplinar, na qual os componentes sabem o limite de sua atuação, contribuindo para que esse paciente terminal tenha dignidade até a chegada de sua morte.

A origem do termo cuidados paliativos se confunde com a palavra “hospice”, que denominava abrigos que desenvolviam a função de cuidar dos peregrinos e viajantes da época, proporcionando os cuidados necessários a estes que careciam de ajuda. Com uma perspectiva única de proporcionar caridade, essas instituições eram mantidas por religiosos cristãos.

Quando nos deparamos com o cenário de doença, não mensuramos a dimensão de limitações e impossibilidades que fazem parte deste cenário, as discussões que estão presentes neste contexto são complexas, pois envolvem emoção e razão. A ética aparece como um norte, mas nem sempre aceito pelo profissional que, via de regra, sempre tende a se empenhar ao máximo para salvar aquela vida, já que este foi programado para salvar vidas e não perdê-las. É nesse ponto que aparece o processo de ortotanásia, que muitas vezes é entendido de maneira equivocada.


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Ortotanásia tem sua origem no grego, onde (orto: certo, thanatos: morte), também podendo ser considerada como a “filosofia da boa morte”, tendo como base, a morte do homem no momento certo. A negação de se investir em ações obstinadas ou mesmo fúteis, que tem como única busca prolongar a morte do paciente, cuja doença avança para o inevitável, que é a falência gradativa de suas funções vitais, evita o sofrimento do paciente e de seus familiares. Os recursos terapêuticos com o avançar da doença em algum momento se esgotam e todas as tentativas e esforços de querer manter essa vida são inúteis. Quando esse tipo de processo acontece, podemos dizer que temos um distanásia instaurada, e a única resposta que se tem é dor e sofrimento para todos envolvidos.

Este é um fator complicador, pois o cuidador pode entrar em conflito de sentimentos, onde o não aceitar a morte ou mesmo negar que ela se fará presente, é um indício de que este profissional deve se reciclar e revisar seu entendimento dentro do processo de cuidados paliativos. São comuns casos de profissionais com sentimentos de revolta, tristeza, desamparo e frustração, que se não tratados devidamente, vão refletir em sua vida social e todos esses sentimentos podem resultar em culpa, por acreditar que poderia ter feito mais e não teve a chance ajudar aquele indivíduo em situação de sofrimento. A vida profissional fica afetada por uma falta de precaução de cuidados na vida pessoal, pois fortalecendo o emocional é que vamos proporcionar o suporte para seguir trabalhando com cuidados paliativos.

Muitos se chocam com a ideia de ter que aceitar o conceito de existência do momento certo do morrer, podem surgir sentimentos de ambivalência, raiva e tristeza, que por vezes caracterizam este comportamento, pois apesar de convivermos com a morte desde o início de nossa vida, ela ainda é o tabu que persiste em nos acompanhar até nossa própria morte.

Diante disso, constatamos a relevância do cuidador receber cuidados, principalmente emocionais, a fim de proporcionar subsídios para que ele desenvolva um bom trabalho diminuindo as possibilidades de sofrimento emocional. Algumas questões devem ser sempre reforçadas tais como: discussões sobre luto, conhecimentos técnicos, conhecimento da própria história, entender a cultura da morte, o saber trabalhar em equipe, lembrar os objetivos do cuidar, não se deixar entrar em funcionamento mecânico, manter um olhar mais apurado ao emocional do próprio paciente e manter preparo para reagir aos comportamentos agressivos que o paciente eventualmente possa demonstrar durante o processo.

O indivíduo que trabalha com a morte fica exposto a apresentá-la a qualquer instante, e isso traz a certeza de que a morte existe, que é real e que vai acontecer mesmo se fizermos de tudo para evitá-la ou mesmo fingirmos que ela não existe. Geralmente no ambiente hospitalar o conforto frente ao fenômeno vem do lado espiritual, que ajuda a diminuir o sofrimento emocional e de certa forma aceitar que a morte é real.

Mas a dor física segue presente e os medos e incertezas aumentam, seja por descaso de não tentar entender a morte ou mesmo por não se prevenir e se reciclar frente a possíveis fragilidades. Dentro deste quadro, exaltamos a importância do profissional estar sendo acompanhado por um serviço de apoio emocional, seja ele de um psicólogo, psiquiatra, filósofo clínico ou de um aconselhamento pastoral. Este apoio objetiva prevenir que possíveis variáveis relacionadas à insegurança, medos, crenças, estágios depressivos entre outros processos, possam interferir ou mesmo inviabilizar a adequada execução das atividades hospitalares, em determinadas situações.

Marcelo Franco 

 


sábado, 6 de julho de 2024

Tânatos: declínio, abismo, desconhecido...

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Tão certo quanto a noite é escura

E o dia é claro

Dormindo na rua,

Na luz ou nas sombras.

Apesar de eu fugir

Ela me persegue.

 }{

Segue ao meu lado

Está a minha frente.

Olho para trás e ela está à espreita.

Está comigo desde que nasci,

Estamos rumo ao inevitável,

Que não traz sorrisos nem dor,

Quando estamos ela não está,

E quando ela está não estamos.

 }{

Pode ser chamada de vários nomes,

Chame-a do que quiser,

Mas não se esqueça,

Da única certeza desta vida,

Ela sempre vai estar lá!

Nos aguardando para o momento derradeiro.

 }{

Por mais que eu negue, ela me lembra, me recorda.

Como se esperasse um dia cinzento, sem sol.

Quando sentará em minha mesa e tomará um último café comigo....

Meu destino se materializa no vazio, no nada, no insólito, no desconhecido.  

}{

O presente nada mais é que um futuro que um dia se tornará passado.

Querer saber o que não se sabe vai nos levar a entender o que não se sabe, sem saber.

 

 

Marcelo Franco

Haicais em Cidreira

HAICAIS VeJo senTido no Meu desaPreÇo, Saudades No meU deSapeGo, Apego nO meU reCoMeçO. aManheCeu Em maiS Um diA. Olhos CanSados aPós noiTe ...