terça-feira, 2 de agosto de 2022

O que tem do outro lado?

 


“Quem não sabe o que é a vida, como saberá o que é a morte?” essa célebre frase é de Confúcio, pensador e filósofo chinês. Mas o que sabemos sobre ela? O que se pensa quando se fala em morte? Ou mesmo na palavra vida? Ainda hoje há rumores de que o homem não foi até a lua, segundo Love Kraft os gatos é que iam até a lua, fazendo viagens cósmicas. Existem muitos mistérios ainda não desvendados que assustam o homem, mas existe um que assusta e fascina ao mesmo tempo. A morte, esse fenômeno que nos rodeia desde o início dos tempos, e que vai nos acompanhar pela eternidade.

A palavra morte vem do latim mors, umas das únicas certezas que se tem na vida é a morte. Sabemos que vamos morrer, mas mesmo assim, fazemos de tudo para retardar ou mesmo driblar a finitude. É engraçado, podemos marcar a hora de um nascimento, mas não de uma morte, ela, a “morte” é quem decide o horário do desenlace, salvo exemplos de assassinatos ou homicídios que se enquadram em outro tipo de questão. Os médicos podem até dizer que um indivíduo tem alguns meses de vida devido a uma doença terminal, mas não sabem precisar exatamente a data e a hora do encontro com a morte. Esse é um fenômeno digno de mais respeito do que o atualmente a ele dispensado, mas devido à ignorância da humanidade, o respeito pela morte foi levado ao segundo plano, fazendo lembrar um dos livros de Sigmund Freud “Totem e tabu”, que revela algumas das diversas abordagens conceituais existentes sobre a morte, derivadas da diversidade histórica, cultural e religiosa de cada sociedade em seu tempo. Numa das passagens, descreve que os guerreiros quando abatiam um adversário faziam oferendas em respeito à morte do adversário, pois era forte a crença no sentido de que se não fizessem um culto a morte seriam amaldiçoados. Claro que cada época tem seus rituais e tradições, mas atualmente não esboçamos o devido respeito pelo fim da vida, fato que, aliás, provavelmente é consequência da desvalorização da própria vida.

O filósofo alemão Martin Heidegger retrata em seu livro “Ser e tempo”, as condições da morte, fala que não devemos temer a morte, pois “se eu estou aqui, a morte não está presente, e se ela está aqui eu não estarei presente, por isso ela está onde não estou então por que temê-la?” Mas não é tão fácil aceitá-la, principalmente se estivermos envolvidos com a situação, pois ao se perder um amigo ou um ente querido a finitude e a certeza da futura ausência física permanente não é nada fácil. Por isso Heidegger coloca que o homem precisa estar permanentemente em vigília, com relação aos fenômenos que se apresentam, e que de alguma forma o afetam diretamente no seguimento de sua cotidianidade.

O que tem do outro lado? Nos tempos atuais não pensamos nisso, não questionamos, nem nos preocupamos, mas e quando chegar a nossa hora? Vamos passar pelos cinco estágios da morte, negação, raiva, barganha, depressão e aceitação, mas não necessariamente nessa ordem cada um vai ter a sua ordem nesse processo. E aí? Será fácil dizer a todos: “calma está tudo bem! Chegou a minha hora! Estou pronto!”, claro que não, sempre vamos nos apegar no mínimo sopro de vida, sempre teremos aquele projeto inacabado, aquele lugar que ainda não visitamos, a louça que ainda não lavei, imagina como vou deixar a louça suja para alguém lavar! Nessa hora vamos dar as desculpas mais estapafúrdias para ficar só mais um pouquinho, pois o ser humano além de apegado às pessoas, também tem apego a coisas, é apegado à vida. Mas por que não dar o devido valor antes de chegar essa hora? Por que deixamos tudo para a última hora? Então se ainda há tempo, dê um abraço em quem está ao seu lado, peça desculpas a alguém que você magoou, acorde agradecendo por você ter mais um dia de vida, agradeça apenas por estar respirando, largue o celular quando estiver em uma parada de ônibus e olhe as árvores, os pássaros, cumprimente um desconhecido, enfim: apenas viva como se fosse sempre o último dia de sua vida, pois certo é que tudo terá mais sentido num simples, autêntico e imediato viver, sem postergações, desculpas e indiferenças que ao final farão toda a diferença.

Marcelo Franco

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