quinta-feira, 11 de abril de 2024

Aconselhamento Pastoral

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   Buscando em um dicionário qual a definição da palavra aconselhamento, podemos obter a explicação de que: “é o ato ou efeito de se aconselhar”, onde a palavra “aconselhar” é definida por dar ou pedir conselho (s) a (alguém); ouvir conselho(s); orientar(s); orientar(-se). Ou também pode ser: auxílio ou orientação que um profissional (pedagogo, psicólogo etc...) presta ao paciente nas decisões que este deve tomar com relação À escolha de profissão, cursos etc., ou quanto à solução de pequenos desajustamentos de conduta.

   O termo aconselhamento pastoral  tem sua origem da lingua inglesa, da palavra “counseling” que era usada em meados do século XX diretamente no contexto norte-americano, esse tipo de atividade precisou romper algumas barreiras, entre elas saber se esta tarefa seria uma atividade de um pastor ou de uma pastora,  mas outros conteúdos receberam uma atenção tais como, clínica pastoral (acompanhamento pastoral na área da saúde), psicologia pastoral (o interpretar pastoral frente uma condição psicológica) e a poimênica.

    O objetivo maior do aconselhamento pastoral é ajudar o próximo a tratar suas dificuldades emocionais e os mais diversos conflitos, assim melhorando a qualidade de vida do indivíduo. Além disso, fortalecer os pensamentos frente a percepção da realidade, evitando atitudes de inadequação e distorção das situações que vai enfrentar frente a sociedade que está inserido.  Conviver em sociedade nos coloca frente a inúmeros medos e incertezas, sempre vamos enfrentar desafios de diferentes níveis. O conselheiro poderá utilizar recursos da psicologia, pedagogia e filosofia, para proporcionar apoio a quem recebe o atendimento.  Mas os recursos bíblicos seguem básicos como uma direção, assim como a palavra de Deus. Podemos dizer que o aconselhador é,

um vocacionado, um chamado por Deus a trabalhar em favor da vida e da Saúde, presença amorosa e libertadora de Jesus que cura. Pessoa rica em humanidade, que comunica proximidade, acolhida e carinho; capaz de escutar e de acolher o outro em sua história pessoal, sua individualidade e oferecer-lhe hospitalidade.em seu coração. [...] É uma pessoa discreta, não impõe sua presença, está atenta para captar o que o outro quer e necessita. Respeita os silêncios e confidências. Reconhece sua pobreza, seus limites e está consciente de não poder resolver todos os problemas, porém, tem um coração capaz de acolher o sofrimento e comunicar consolo, serenidade, paz. (CELAM, 2000, p. 55)

    Nunca se sabe quando vai acontecer uma crise emocional, seja ela de forma repentina ou mesmo gradativa que vai se instaurando aos poucos, é certo que em algum momento vamos precisar de uma apoio ou mesmo uma escuta mais qualificada. Para isso, o aconselhamento  tem como objetivo preparar os indivíduos quando chegar esse momento, aproveitando sempre com isto fortalecer um crescimento pessoal frente as adversidades da vida.

    Quando acontece uma situação que tira o indivíduo de sua rotina, o seu dia já começa a ter alterações, o comportamento muda e as reações iniciais podem ser de: ira, tristeza, ansiedade, angústia, frustração, medo, negação, depressão, entre outras. Aonde tudo isso, reflete na mudança de seu comportamente, recorrente de uma descoberta de doença grave, a perda de um ente querido, ou até mesmo a perda de um empregou ou término de relacionamento.

    Alguns pontos devem ser levados em conta, pois todas as pessoas terão em suas vidas essas situações difíceis, e vão se desorganizar emocionalmente. Como todas as pessoas são diferentes umas das outras, cada indivíduo terá reações diferentes sendo elas emocionais ou corporais, jamais se descarta ajuda médica, até mesmo para se diferenciar uma dor física provocada por doença, ou uma dor emocional que é recorrente de uma somatização (dores sem motivo aparente, ou um resultado de sofrimento emocional). O perigo em uma crise emocional, é quando o indivíduo não assimila a dificuldade, e processos disfuncionais começam a acontecer na vida dessa pessoa, tais como: negação, raiva, barganha, depressção prolongada, busca por alcool e drogas, até tentativas de suicídio, entre outras condições. E com isso a responsabilidade só aumenta, onde o êxito desta relação vai depender da comunicação e da escuta do aconselhante.

    Frente a isso, o indivíduo necessita de ajuda para poder enfrentar as situações adversas, e o aconselhador terá a função de realizar o primeiro acolhimento, com uma escuta atenta e respeitando o ritmo do paciente. Neste primeiro momento, os temas podem ser os mais diversos, e a fala do indivíduo parece estar se desviando do real motivo, mas essa é a oportunidade que o aconselhador tem de demonstrar a real importância que ele demonstra pela dor do paciente, e assim fortalece o vínculo entre ambos, se iniciando assim a primeira fase do acolhimento.

    Num contexto mais amplo podemos notar uma sociedade muito fragiliazada emocionalmente, onde é “proibido” demonstrar ser frágil, mesmo em uma rede social, se observarmos, vamos notar uma corrida de quem é mais feliz, fotos de viagens, compras a todo instante, almoço em locais requintados e até o famoso culto ao corpo que leva as pessoas realizar procedimentos estéticos de altos valores. Mas tudo isso, tem escondido uma falta real que jamais será suprida com nenhum desses tipos de comportamento, aonde quanto mais se insere neste comportamento aumenta o sofrimento pessoal. Uma sociedade alienada e ao mesmo tempo totalmente solitária, não tem nem mesmo tempo de enxergar que está adoecida e muito menos reconhecer que precisa da ajuda de um apoio emocional.

   Geralmente as pessoas escondem suas dificuldades, muito comum no primeiro momento da conversa de atendimento, seja ela de qualquer linha terapeutica, o paciente falar de outras questões, para somente após dois ou até três atendimentos se descibrir realmente o que está desestruturando aquele indivíduo. E após este momento inicial, o aconselhador consegue a confiança do sujeito, e assim o acolhedor é o único a entrar na questões mais íntimas e particulares desta pessoa. Para isso é necessário que este acolhedor seja sensível e esteja preparado para poder lidar com as dificuldades, e proporcionar um crescimento e fortalecimento, para quem está em sofrimento. Em todo aconselhamento pastoral é essencial honestidade, por ambas as partes, para assim acontecer uma enfrentação honesta.

    Além disso, se presume que o aconselhedor respeite os horários e a dinâmica da instituição que estiver vinculado,  conhecendo as patologias, tipos de tratamentos e técnicas de intervenção. Seu trabalho é ter domínio na arte de ouvir atentamente, realizando acolhimento e compreenção, construindo assim um ambiente favorável para que o interlocutor possa expressar seus sentimentos de maneira tranquila e confiante.

Marcelo Franco

*CELAM, Guia da Saúde Pastoral para a América Latina e o Caribe. São Paulo: Loyola, 2000.

OBS: conheci esta abordagem no mestrado em Teologia, apesar de eu seguir a linha psicanalítica,  achei o método de ajuda bem interessante para proporcionar apoio a quem está em sofrimento emocional. 

 

terça-feira, 2 de abril de 2024

Psicoterapia, sensibilidade e silêncio

 

*El Silencio

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    O silêncio dentro da comunicação, ao contrário do que se pensa, é bem importante. É objeto de estudo dentro da psicanálise e sempre muito valorizado. Mas podemos estender a qualquer tipo de atendimento emocional, pois é visto como um ato de se comunicar que vai além do âmbito de estudos fonéticos. Em nossa sociedade atual, verificamos uma tendência a uma necessidade contrária, pois todos querem falar, mesmo que não se tenha algo a dizer. O silêncio perde sua importância nos dias atuais. O efeito que o silêncio tem em uma conversa entre duas pessoas, é esclarecedor pois é neste momento que ele se mostra mais que uma palavra, ele desvela a realidade e, sem dizer nada, afirma o que se nega a dizer.

    Mas não se pode descartar que o silêncio pode vir como efeito em outras condições, a própria resistência ou mesmo elaboração de uma fala, trazendo algumas dúvidas para a condição de um tratamento. Isso vai depender muito da percepção do condutor do atendimento e de sua habilidade e paciência, que são essenciais neste tipo de situação.

    Além disso, o silêncio é uma forma de expressar compreensão, onde ambos respeitam o silêncio que se faz presente em um atendimento, no qual cada um terá seu tempo e não existe uma regra para esse tempo. Em alguns momentos pode-se não entender o silêncio alheio, pois é necessário perceber o contexto no qual se faz este silêncio. Por isso a importância de se saber respeitar o momento de cada um, pois o psicoterapeuta está entrando no mundo de outra pessoa, e neste mundo existem valores e expectativas diferentes das que se possa ter.

    Se lembrarmos que em certos momentos de nosso dia, o silêncio pode ser constrangedor. Um exemplo que podemos citar é relativo aos elevadores nos quais entramos e não conhecemos as pessoas que estão ali presentes. Nos poucos minutos dessa pequena viagem o silêncio é bem desconfortável. Hoje as pessoas tem a necessidade de falar, querem falar da sua vida, de seus projetos, de suas viagens, de suas relações, de seus pets, entre outras questões pessoais, mas fica a dúvida: quem escuta, quer ouvir? Pois escutar alguém é uma arte, é ter uma sensibilidade com o sentimento do outro e em nosso cotidiano atual todos querem falar, mas poucos se disponibilizam a ouvir, e quem fala quer uma escuta, não quer falar a toa. Além disso, o silêncio pode dar conotação a situações difíceis tais como: pedido de socorro ou mesmo a vontade de trazer uma situação importante. Quando em uma situação de atendimento o silêncio se faz presente, devemos ter em mente que nossa atenção deve estar redobrada para entender o que esse silêncio está nos transmitindo.

    A presença do silêncio deve sempre vir acompanhada de uma escuta atenta e para isso é necessário paciência e cuidado, nem sempre é preciso se dizer alguma coisa, e quebrar este silêncio, neste instante, pode significar a interrupção da oportunidade do psicoterapeuta pensar na situação. A reflexão tão necessária na tentativa de esclarecer os porquês de tal condição não deve ser interrompida, mesmo que não chegue a uma resposta imediata, o indivíduo precisa desse espaço, até mesmo para buscar uma aceitação.

    O psicoterapeuta precisa ser sensível para observar tudo que o paciente possa trazer dentro do silêncio, para manejar a situação de forma tranquila e sem apressar esse instante. Mesmo dentro do seu silêncio que o protege de certa forma, o indivíduo pode estar recordando algumas lembranças, e as elaborando, apesar de não estar dizendo nada, pode estar buscando aceitação ou entendimento do processo que está enfrentando.

Marcelo Franco

* El Silencio, Pintura por Mario Sarabí (2012)

Haicais em Cidreira

HAICAIS VeJo senTido no Meu desaPreÇo, Saudades No meU deSapeGo, Apego nO meU reCoMeçO. aManheCeu Em maiS Um diA. Olhos CanSados aPós noiTe ...