terça-feira, 2 de abril de 2024

Psicoterapia, sensibilidade e silêncio

 

*El Silencio

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    O silêncio dentro da comunicação, ao contrário do que se pensa, é bem importante. É objeto de estudo dentro da psicanálise e sempre muito valorizado. Mas podemos estender a qualquer tipo de atendimento emocional, pois é visto como um ato de se comunicar que vai além do âmbito de estudos fonéticos. Em nossa sociedade atual, verificamos uma tendência a uma necessidade contrária, pois todos querem falar, mesmo que não se tenha algo a dizer. O silêncio perde sua importância nos dias atuais. O efeito que o silêncio tem em uma conversa entre duas pessoas, é esclarecedor pois é neste momento que ele se mostra mais que uma palavra, ele desvela a realidade e, sem dizer nada, afirma o que se nega a dizer.

    Mas não se pode descartar que o silêncio pode vir como efeito em outras condições, a própria resistência ou mesmo elaboração de uma fala, trazendo algumas dúvidas para a condição de um tratamento. Isso vai depender muito da percepção do condutor do atendimento e de sua habilidade e paciência, que são essenciais neste tipo de situação.

    Além disso, o silêncio é uma forma de expressar compreensão, onde ambos respeitam o silêncio que se faz presente em um atendimento, no qual cada um terá seu tempo e não existe uma regra para esse tempo. Em alguns momentos pode-se não entender o silêncio alheio, pois é necessário perceber o contexto no qual se faz este silêncio. Por isso a importância de se saber respeitar o momento de cada um, pois o psicoterapeuta está entrando no mundo de outra pessoa, e neste mundo existem valores e expectativas diferentes das que se possa ter.

    Se lembrarmos que em certos momentos de nosso dia, o silêncio pode ser constrangedor. Um exemplo que podemos citar é relativo aos elevadores nos quais entramos e não conhecemos as pessoas que estão ali presentes. Nos poucos minutos dessa pequena viagem o silêncio é bem desconfortável. Hoje as pessoas tem a necessidade de falar, querem falar da sua vida, de seus projetos, de suas viagens, de suas relações, de seus pets, entre outras questões pessoais, mas fica a dúvida: quem escuta, quer ouvir? Pois escutar alguém é uma arte, é ter uma sensibilidade com o sentimento do outro e em nosso cotidiano atual todos querem falar, mas poucos se disponibilizam a ouvir, e quem fala quer uma escuta, não quer falar a toa. Além disso, o silêncio pode dar conotação a situações difíceis tais como: pedido de socorro ou mesmo a vontade de trazer uma situação importante. Quando em uma situação de atendimento o silêncio se faz presente, devemos ter em mente que nossa atenção deve estar redobrada para entender o que esse silêncio está nos transmitindo.

    A presença do silêncio deve sempre vir acompanhada de uma escuta atenta e para isso é necessário paciência e cuidado, nem sempre é preciso se dizer alguma coisa, e quebrar este silêncio, neste instante, pode significar a interrupção da oportunidade do psicoterapeuta pensar na situação. A reflexão tão necessária na tentativa de esclarecer os porquês de tal condição não deve ser interrompida, mesmo que não chegue a uma resposta imediata, o indivíduo precisa desse espaço, até mesmo para buscar uma aceitação.

    O psicoterapeuta precisa ser sensível para observar tudo que o paciente possa trazer dentro do silêncio, para manejar a situação de forma tranquila e sem apressar esse instante. Mesmo dentro do seu silêncio que o protege de certa forma, o indivíduo pode estar recordando algumas lembranças, e as elaborando, apesar de não estar dizendo nada, pode estar buscando aceitação ou entendimento do processo que está enfrentando.

Marcelo Franco

* El Silencio, Pintura por Mario Sarabí (2012)

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