Ainda nos tempos atuais, fazer uma
separação entre religião e espiritualidade exige um esforço além do estudo
científico. A crença e a investigação não estão demarcadas claramente, a
sociedade ainda reforça referências subjetivas que não se apoiam em nenhum
embasamento científico. A forma como um Deus é visto, tanto nos dias de hoje
como no passado, demonstra como a subjetividade tem um forte poder de influenciar
a vida atual, demonstrando que pode vir a distorcer emoções e comportamentos.
O termo psicologia, por incrível que
pareça tem como raiz etimológica psiché (alma)
+ logos (razão, estudo). Inicialmente
a proposta de estudo da psicologia seria a compreensão do espírito, mas esse
estudo em algum momento acabou se perdendo com o passar dos tempos, se
concentrando mais na razão científica e concreta, infelizmente. O sentir,
intuir, atuar, saber e amar que são sentidos primordiais do homem verdadeiro
(onde não existe o mal e o bom, mas sim apenas o puro, o verdadeiro, o
transparente), continuam abafados e esquecidos, uma vez que foram castrados no
homem pensador, que descarta de todas as formas olhar para si mesmo.
Os paradigmas da psicologia
contemporânea não permitem que esse mesmo homem que hoje se enxerga de forma
alterada e que, na verdade, nunca deixou de ser ele mesmo, reconheça que a
espiritualidade seja um fenômeno verdadeiro e que, como qualquer outro tipo de
estudo, apresente suas peculiaridades e subjetividades. Na atualidade, a
ciência política moderna considera o ser separado da natureza, ou mesmo de seu
estado de natureza. Nietzsche aponta esse como um dos principais enganos da
teoria política moderna. Sendo assim, podemos identificar que um dos maiores
equívocos da psicologia em geral, foi não ter acoplado a visão espiritual na
mudança de paradigma do homem como um ser biopsicossocial. Esqueceu-se que ao
seu redor não existem somente coisas concretas e comprovadamente científicas, e
sim também os fenômenos inexplicáveis. Segundo, Ludwig Feuerbach, o homem não é
radicalmente livre, pois sua condição é a natureza. De alguma forma, podemos
compreender nesse sentido o medo do homem de aceitar o próprio inexplicável,
(como esse mesmo homem vai acreditar em um Deus? pois Deus não se explica! Ou
se explica?).
Por outro lado, temos que a “neofobia” –
ou o medo do novo, do desconhecido -, sempre foi um desafio para a humanidade, sempre
trazendo a insegurança quando percebida, no momento em que o indivíduo se
depara em um novo território de conhecimento. O transpor barreiras, o
desconstruir de forma benéfica, para após construir algo melhor, sempre foi
visto como ruim. Mas segundo Friedrich Nietzsche, não enxergar o mal é deixar
de lado o recomeçar. Algo como não oportunizar ao homem transpor essa barreira.
Nietzsche observa que o negativo é o fermento indispensável de toda criação. Empenhar-se
em eliminar esse mal-negativo é, portanto matar no homem o princípio vital da
superação de si. “O novo, de qualquer modo, é o mal, visto que é o que quer
conquistar, derrubar as fronteiras, abater as antigas devoções; só o antigo
bem!” (livro Gaia Ciência)
Percebe-se que a conexão da nova psicologia
e da antiga está engatinhando ou mais aquém, no útero dessa junção. Com isso,
fica lançado o desafio para todos profissionais envolvidos nestas áreas do
conhecimento: desenvolver novos estudos e abordagens que de alguma forma possam
abranger não somente a razão, mas também relacionar a espiritualidade e
religião, em possíveis estados alterados de consciência.
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