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O que leva um pesquisador a investigar o
fenômeno da morte? Essa é uma pergunta que me faço muitas vezes, pois cada vez
que falo sobre minha pesquisa as pessoas perguntam: “Por que?” Sei que é um
assunto complicado e cheio de tabus, mas me pergunto:
por que não pesquisar? Vivemos
em uma sociedade marcada pelo apego a coisas materiais, e que
parece ter deixado de lado lembrar que somos seres finitos. Frente a esta
situação verifiquei em vários momentos que existe um despreparo de enfrentamento quando esse momento
chega. E aqui me refiro
tanto ao despreparo da pessoa
que enfrenta o fenômeno, pois todos nós vamos passar por esta etapa um dia,
quanto (e principalmente) ao despreparo dos profissionais que lidam com o momento
da morte. Sobretudo
das pessoas que trabalham em hospitais,
asilos e outros locais destinados a cuidar de pessoas idosas e/ou enfermas. A
forma como as pessoas compreendem a morte é muito singular, depende muito de
seu entendimento e o modo como as pessoas ao longo de sua vida lhe fizeram
entender a finitude. Desde cedo as pessoas vão ter contato com as perdas, seja
de um ente querido ou de um animal de estimação, mas a realidade desta perda
vai ter sentido a partir da adolescência, época a partir da qual o indivíduo
começa a entender o que realmente é a morte. E, desde então, evidenciamos que
este fenômeno é alvo de adiamento ou repulsa, que é a única certeza que temos
mas que é carregada de circunstâncias incertas quanto ao seu antes, durante e
depois. Se inicia já diante dos primeiros contatos com a morte a repulsa ou
negação acerca da ideia representada pelo fenômeno que transforma presença em ausência.
A possibilidade de melhor se entender e por isso aceitar a finitude comumente se verifica na fase da velhice,
quando entendemos que esta é a última etapa do ciclo de desenvolvimento humano.
Mesmo assim, a cultura em que vivemos nos força de alguma forma a negar que em
algum momento podemos não estar mais presentes neste plano, e a vida cada vez
mais atribulada e cheia de imediatismos muitas vezes não nos permite tempo para
reflexões mais abstratas e sobre eventos futuros como a morte.
Muitas vezes ao longo da vida vamos
presenciar situações nas quais inúmeras desculpas serão utilizadas para adiar
falar sobre o assunto, e mesmo quando tivermos a possibilidade de discutir o
tema, muitas vezes seremos induzidos a negar e adiar, como se fosse um assunto
proibido. Não podemos deixar de lembrar
que o ser humano se diferencia dos outros animais por ser o único a ter
consciência sobre a finitude, tendo a real representação do que é de fato a morte.
* MORIN, E. (1997). O homem e a morte. Rio de Janeiro (RJ): Imago.
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