domingo, 7 de junho de 2020

“El día de los muertos”

                                                                         


O México é um país conhecido por sua culinária, sua música e seu carisma, mas há um assunto no qual eles surpreendem as outras culturas: “la muerte”. Pois é, os mexicanos possuem a tradição de comemorar o dia dos mortos, constituindo-se numa festa tradicional na qual a atmosfera que a permeia pode ser comparada com o nosso famoso carnaval. Muitos bonecos, alegorias e cores compõem a festividade, que ocorre anualmente entre os dias 01 e 02 de novembro. Podemos dizer que a celebração manifesta avesso de tristeza, luto e dor, comemorando a lembrança daqueles que não irão mais voltar com muita alegria e cores, maciçamente desenhados nos rostos em imagens de “cavaleras” (caveiras) ou mesmo esqueletos, sendo ainda presentes nas alegorias e adereços de casas e prédios nas cidades mexicanas. Além disso, outra curiosidade que se destaca para nós brasileiros ou para aqueles que não cultivam esta tradição é a que se refere às oferendas ofertadas aos ancestrais, constituídas por muitas comidas, doces e bebidas, tudo de modo muito farto. Podemos dizer que o povo comemora as vidas de seus ancestrais que, simbolicamente, nessa época retornam ao mundo dos vivos. Dada a importância e intensidade que caracterizam esta comemoração, executada sempre com muito carinho e imenso respeito para com aqueles que já não se encontram entre nós, verificamos o diferenciado modo através do qual cada indivíduo ou cultura lida com o significado da finitude da existência humana. Morte segundo o dicionário quer dizer o fim/cessação da vida e, em geral, causa medo. Mas, dependendo de onde estivermos, é um evento cuja abordagem ocorre de inúmeras formas, que incluem os mais distintos rituais, baseando-se nas mais variadas crenças. Se tratando de Brasil, estamos nos acostumando a vê-la estampada por todos os lados, digo todos os lados e ângulos mesmo, chegando até nosso conhecimento através de jornais, noticiários, redes sociais e até via whatsapp, em forma de notícias ou manchetes alardeadas em ritmo acelerado, em primeira mão. Hoje não se enxerga um respeito por aqueles que se foram em nosso país, bem pelo contrário, basta ter um desastre como a queda do avião da Chapecoense, que com certeza receberemos fotos de envolvidos no desastre como se fosse algo qualquer. Não pensamos em um familiar que vai se deparar com esse tipo de situação, abrindo uma mensagem de whatsapp em seu telefone e visualizar um familiar morto, seu pai, seu irmão ou mesmo um amigo querido. Não nos colocamos no lugar do outro, creio que através dos anos não conseguimos entender e desenvolver o conceito de empatia, de apenas e unicamente se colocar no lugar do outro, tão importante em certos momentos. Onde está o respeito por aqueles que se foram? Onde está a consideração pela perda? Onde está o respeito pela morte? Existem países que encaram a morte de frente, como o México, que celebra a finitude, reservando alguns dias do ano para lembrar os que se foram. A festa dos mortos movimenta a sociedade mexicana, rádios, jornais e noticiários reservam um momento para lembrar a importância da festividade. Outra curiosidade são as famílias que agregam ao costume da festa o ritual de abrir os túmulos, retirar os “muertos”, limpar os restos mortais, e, em seguida, recolocar os “muertos” de volta a suas tumbas, para mais um ano de descanso. Inusitado, diferente, incomum, exótico, díspar, poderíamos adicionar muitos adjetivos a toda essa tradição, mas nada se sobrepõe ao respeito que esse povo tem por seus ancestrais, através da exaltação e manutenção de sua cultura, que nos revela uma abordagem muito peculiar acerca da morte, corroborando a perpetuação do conhecimento sobre seus próprios valores, histórias, crenças e virtudes, tão rara e necessária em nossa atualidade.

Marcelo Ávila Franco

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Haicais em Cidreira

HAICAIS VeJo senTido no Meu desaPreÇo, Saudades No meU deSapeGo, Apego nO meU reCoMeçO. aManheCeu Em maiS Um diA. Olhos CanSados aPós noiTe ...