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México é um país conhecido por sua culinária, sua música e seu carisma, mas há
um assunto no qual eles surpreendem as outras culturas: “la muerte”. Pois é, os
mexicanos possuem a tradição de comemorar o dia dos mortos, constituindo-se numa
festa tradicional na qual a atmosfera que a permeia pode ser comparada com o
nosso famoso carnaval. Muitos bonecos, alegorias e cores compõem a festividade,
que ocorre anualmente entre os dias 01 e 02 de novembro. Podemos dizer que a celebração
manifesta avesso de tristeza, luto e dor, comemorando a lembrança daqueles que
não irão mais voltar com muita alegria e cores, maciçamente desenhados nos
rostos em imagens de “cavaleras” (caveiras) ou mesmo esqueletos, sendo ainda
presentes nas alegorias e adereços de casas e prédios nas cidades mexicanas. Além
disso, outra curiosidade que se destaca para nós brasileiros ou para aqueles
que não cultivam esta tradição é a que se refere às oferendas ofertadas aos
ancestrais, constituídas por muitas comidas, doces e bebidas, tudo de modo muito
farto. Podemos dizer que o povo comemora as vidas de seus ancestrais que,
simbolicamente, nessa época retornam ao mundo dos vivos. Dada a importância e
intensidade que caracterizam esta comemoração, executada sempre com muito
carinho e imenso respeito para com aqueles que já não se encontram entre nós, verificamos
o diferenciado modo através do qual cada indivíduo ou cultura lida com o
significado da finitude da existência humana. Morte segundo o dicionário quer
dizer o fim/cessação da vida e, em geral, causa medo. Mas, dependendo de onde
estivermos, é um evento cuja abordagem ocorre de inúmeras formas, que incluem
os mais distintos rituais, baseando-se nas mais variadas crenças. Se tratando
de Brasil, estamos nos acostumando a vê-la estampada por todos os lados, digo
todos os lados e ângulos mesmo, chegando até nosso conhecimento através de jornais,
noticiários, redes sociais e até via whatsapp, em forma de notícias ou
manchetes alardeadas em ritmo acelerado, em primeira mão. Hoje não se enxerga
um respeito por aqueles que se foram em nosso país, bem pelo contrário, basta
ter um desastre como a queda do avião da Chapecoense, que com certeza
receberemos fotos de envolvidos no desastre como se fosse algo qualquer. Não
pensamos em um familiar que vai se deparar com esse tipo de situação, abrindo
uma mensagem de whatsapp em seu telefone e visualizar um familiar morto, seu
pai, seu irmão ou mesmo um amigo querido. Não nos colocamos no lugar do outro,
creio que através dos anos não conseguimos entender e desenvolver o conceito de
empatia, de apenas e unicamente se colocar no lugar do outro, tão importante em
certos momentos. Onde está o respeito por aqueles que se foram? Onde está a
consideração pela perda? Onde está o respeito pela morte? Existem países que
encaram a morte de frente, como o México, que celebra a finitude, reservando
alguns dias do ano para lembrar os que se foram. A festa dos mortos movimenta a
sociedade mexicana, rádios, jornais e noticiários reservam um momento para
lembrar a importância da festividade. Outra curiosidade são as famílias que
agregam ao costume da festa o ritual de abrir os túmulos, retirar os “muertos”,
limpar os restos mortais, e, em seguida, recolocar os “muertos” de volta a suas
tumbas, para mais um ano de descanso. Inusitado, diferente, incomum, exótico,
díspar, poderíamos adicionar muitos adjetivos a toda essa tradição, mas nada se
sobrepõe ao respeito que esse povo tem por seus ancestrais, através da
exaltação e manutenção de sua cultura, que nos revela uma abordagem muito
peculiar acerca da morte, corroborando a perpetuação do conhecimento sobre seus
próprios valores, histórias, crenças e virtudes, tão rara e necessária em nossa
atualidade.
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