sábado, 30 de março de 2024

HQ de Neil Gaiman: a morte nos quadrinhos

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*Capa do livro "Morte" de Neil Gaiman

As histórias em quadrinhos tem sua origem no fim do século XIX, um tipo de produto que possui uma linguagem própria, e acaba por se estender em diversos países. Um tipo de produto midiático que teve seu início de publicação em jornais periódicos com um teor humorístico, e estendeu sua expressão à vários países. Mas foi no século XX que as chamadas HQs começaram a sofrer adaptações e teve ampliada seus segmentos de temas que eram abordados em suas páginas.



A HQ “Morte”, de Neil Gaiman trás em sua temática um caráter mais literário, algo que distancia o público infantil, e acaba por conquistar o leitor adulto, que de certa maneira é mais exigente e criterioso. Além disso, as graphic novels que apresentam seus personagens retratados em quadrinhos, quase sempre atraem mais os adultos, devido suas temáticas romanticas serem mais complexas e apresentar centenas de páginas. As graphic novels geralmente são comercializadas em livrarias, apresentando um material mais trabalhado e luxuoso, o que acaba por elevar mais o seu custo.



Nesta história em quadrinho Neil Gaiman aborda uma temática mais obscura e fascinante ao mesmo tempo, pois mexe com um fenômeno que ainda é rodeado de incertezas e especulações, na verdade a única certeza desta experiência é de que um dia todos vamos passar por ela um dia.

O universo de Neil Gaiman se destaca entre as demais histórias em quadrinhos tradicionais, seu estilo de narrativas traz um conteúdo mais filosófico e poético, nos proporcionando uma leitura mais requintada e ao mesmo tempo profunda em termos de crítica literária. Na edição encadernada “Morte Edição Definitiva” ele reúne histórias que abordam temas atuais, assuntos que nos rodeiam durante nosso dia, e dando ênfase a uma personagem que mesmo tendo uma a simbologia do fim da vida no imaginário cotidiano, aparece de forma carismática e humanizada.


“(...) Eu não queria uma Morte que sofresse pelo seu papel, ou tivesse um prazer mórbido com seu trabalho, ou que não se importasse. Queria uma morte que eu fosse gostar de encontrar, no fim. Alguém que se importasse. Como ela.” (GAIMAN, 2014, p. 264).


Neil Gaiman é um famoso ficcionista britânico, nascido em 1960 que vive desde 1992 nos Estados Unidos. Como ele mesmo fala, foi influenciado desde muito cedo por autores como Edgar Allan Poe, C. S. Lewis, G. K. Chesterton, entre outros escritores. Trabalhando como jornalista que descobriu sua vocação para escritor, entre suas obras mais aclamadas estão: Lugar Nenhum, Mitologia Nórdica, Coraline, O Oceano no fim do Caminho, Good Omens (Belas Maldições), o Livro do Cemitério e The Absolute Sandman.



Os temas que Gaiman aborda em suas histórias incluem conceitos de valorização da vida, até o recomeço das mesmas. Vivemos em uma sociedade que banaliza a morte, pois ela se faz presente predominantemente de forma violenta em todas as instâncias de nosso cotidiano, sendo reforçada por uma mídia mal intencionada que sobrevive da audiência decorrente de notícias impactantes, mesmo que mórbidas e/ou violentas e que acaba incentivando todo esse comportamento nefasto de forma subliminar. A história em termos gerais faz refletir a respeito do que é a vida, conduzindo à conclusão de que todos os atos que tomamos têm um significado e responsabilidade no universo em que estamos inseridos e que todas as vidas são importantes, indiferentemente do modo de viver, classe social ou gênero. E negar isso é ir contra a própria existência do ser humano em sociedade.

Marcelo Franco

* GAIMAN, Neil. Morte Edição Definitiva. São Paulo: Panini Books, 2014.

    


quarta-feira, 27 de março de 2024

Fronteiras do pensar! *



O que penso?

É certo?

Ou será errado?

O que será que penso?

Ou melhor, será que penso?

Quantas vezes penso em um dia?

Penso com razão?

Fico a pensar!

Sofro por pensar?

Penso e me lembro do que penso?

E será certo pensar?

Pensei hoje?

Pensarei amanhã?

Será que pensei ontem?

Serei um falso pensante?

Seria possível pensar em etapas?

Início, meio e fim!

Que de alguma forma: seria o ontem o hoje e o amanhã!

Indiferente do que pensar só você manda nos seus pensamentos e mais ninguém!

E acima de tudo!

Você pensa o quê!

Quando!

E o quanto quiser pensar!

Marcelo Franco

 

 

 

terça-feira, 19 de março de 2024

Echo & The Bunnymen - Música para acalentar as madrugadas

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* Capa do disco Flowers

“Sem música a vida seria um erro” essa frase de Friedrich Nietzsche me faz lembrar de um momento especial em minha vida. Sou um admirador confesso dos escritos de Nietzsche e sendo um apaixonado por música dos anos 80, lembro do primeiro ano de vida da minha filha Milena. Quem é pai sabe das dificuldades de um “marinheiro” de primeira viagem para se adaptar ao novo estilo de vida. No meu caso não foi diferente, me lembro como se fosse hoje, quando minha esposa me ligou dizendo que eu seria papai. No primeiro momento eu simplesmente fiquei sem reação, “pai eu? e agora? Como vai ser? Eu nunca fui pai!!!” Mas sempre haverá a primeira vez e a minha chegou. Em um misto de profunda felicidade e insegurança, a trajetória de pai  se iniciou, mesmo de maneira desastrada o agora papai achava que estava pronto para assumir esse papel.


*Milena um pouco antes dos dias atuais

Mas as coisas não foram nada fáceis no início dessa nova fase de papai, pois com o andar da “carruagem”, você nota que sua estrada se transforma em ruas de fogo kkkk (te amo filha). Noites mal dormidas, aprender a trocar fraldas, preparar mamadeiras, acertar a temperatura certa, noites mal dormidas, horários de medicações, exames de rotina, ficar em alerta a todo momento, dar banho, qual a melhor posição para o bebê dormir? barriga para cima ou de lado? noites mal dormidas? O que fazer para evitar cólicas? NOITES MAL DORMIDAS KKKK. Cuidar de um bebê não é fácil, mas mesmo assim após tudo isso, você fica olhando para aquele ser e admirando os detalhes, os traços faciais, a inocência sincera que somente um bebê pode te transmitir mesmo sem te dizer uma única palavra sequer.


* Milena nos dias atuais

Bem, no início deste texto eu citei a frase de Nietzsche “Sem música a vida seria um erro” e o que tem isso a ver com ser papai? No meu caso a música me proporcionou um suporte único, pois eu como muitos papais e mamães que passaram noites em claro cuidando de seus bebês, acabei descobrindo que no caso da “Mi’ a música foi um recurso para me ajudar nos cuidados dela. A Milena tinha muita cólica quando era bebê, e mesmo com chazinhos, medicações e massagens na barriguinha, acabamos descobrindo ou melhor, eu descobri que, quando eu colocava o CD da banda Echo e The Bunnymen para tocar a Milena se acalmava, por mais incrível que pareça, bastava colocar o álbum ‘Flowers” para tocar que a agitação diminuia na hora, e ela se acalmava. Em muitas madrugadas que passamos em claro as músicas “King of Kings”, “Supermellow Man”, “Hide e Seek”, “Make Me Shine” e “It’s Alright”, simplesmente foram uma forma de acalmar nosso bebê e nos deixar mais tranquilos também kkk.

Não preciso dizer que esse CD tocava direto, possivelmente alguns vizinhos deveriam achar que só possuíamos esse CD para escutar. Sempre fui um apaixonado por Echo e The Bunnymen, desde meus 13/14 anos escuto a banda, coleciono CD’s e Lp’s até hoje, mas o mais incrível é que ainda nos dias de hoje quando a Milena escuta essas músicas em específico, ela para e fica pensativa, e fala “Bah, gosto dessa banda”.  Acredito assim como Friedrich Nietzsche que a música possui um poder sobre as pessoas, de transformar nosso dia-a-dia, de nos fazer sorrir ou até mesmo chorar. E neste caso nos fez sorrir e chorar em vários momentos, e tem um significado especial principalmente para mim.


**Lp e Cd do acervo pessoal

Faço aniversário no mês de março e neste ano de 2024, pedi alguns Lps de presente para esposa e filhos, e entre um deles, o álbum “Flowers” da banda Echo e The Bunnymen, um disco que é uma obra prima e uma legítima peça rara no Brasil. Importado direto da Alemanha, pois você não encontra este LP para vender no Brasil ou, quando encontra, é por um valor absurdo. Hoje posso escutar tanto em CD como LP, e apesar de parecer estranho querer ter duas versões diferentes de mídia da mesma obra da banda, estas músicas em específico me despertam um sentimento único e apaixonante.

Marcelo Franco

*_Flowers by Echo e The Bunnymen (2001)

**Lp e Cd do acervo pessoal

domingo, 17 de março de 2024

Morte pelo suicídio, só podemos lembrar deste tema no setembro amarelo?

 


A morte pelo suicídio demonstra ser um assunto desconfortável dentro de outro assunto desconcertante. É o velho tabu se fazendo presente, coisas do tipo, se mencionar acontece e os mais antigos já procuram um objeto de madeira para bater três vezes e assim tentar evitar que aconteça. Sabemos que isso é um mero gesto de superstição, e que não temos esse poder de evitar um acontecimento apenas batendo em um objeto de madeira. 

O suicídio basicamente é um ato cometido por qualquer pessoa de maneira intencional visando matar a si mesmo. Podemos lembrar que geralmente esse ato vem acompanhado de algum sofrimento, que a pessoa que está enfrentando não encontra uma solução ou mesmo uma resposta simples para um porquê. A etimologia da palavra suicídio vem do latim (sui, “próprio”, e caedere, “matar”) condição onde a existência pessoal não faz mais sentido, em que os sentimentos de vazio e tristeza profundos direcionam a pensar que a única saída é acabar com a própria vida.



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Podemos refletir que este fenômeno silencioso acontece de forma quase sempre inesperada e é silenciado por nossa sociedade. Ao longo dos anos constatamos que a mídia e órgãos responsáveis pela saúde abafam este grave problema social. Um problema que é lembrado apenas em uma data por ano, não pode ser denominado como objeto de campanha preventiva. Discutir, abordar e estudar são as ferramentas que temos para desmistificar este fenômeno, a única forma real de prevenção, e não o silêncio ensurdecedor que se faz presente principalmente a cada vez que sabemos de um suicídio.

Além disso, não podemos deixar de mencionar o suicídio entre os transtornos mentais, que provocam o ato em busca de um alívio da dor emocional, tais como: Depressão maior, Bipolaridade, Transtorno de personalidade Borderline, Esquizofrenia, além de outras condições sociais como abuso de álcool e drogas. Nesta perspectiva, podemos abrir uma discussão sobre as possibilidades de um suicídio, as histórias de sofrimento, quadros de insanidade, os quadros depressivos e o surgimento do desejo de morrer. Se empenhando em diminuir os riscos, e promovendo artifícios técnicos para os profissionais da área de saúde que trabalham direto com essas questões. E não somente aos profissionais, mas se estendendo a população em geral.

A sociedade ainda apresenta forte resistência em realizar discussões sobre o assunto, e as produções ao redor do tema são poucas, e se tornam insuficientes para diminuir as tentativas de suicídio. Com isso, os profissionais de saúde ficam limitados a poucos saberes, pois não existem maiores pesquisas e discussões sobre o assunto, dessa forma uma melhora na abordagem e detecção de possíveis riscos torna-se limitada.

Marcelo Franco


terça-feira, 12 de março de 2024

O que leva um pesquisador a investigar o fenômeno da morte?

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O que leva um pesquisador a investigar o fenômeno da morte? Essa é uma pergunta que me faço muitas vezes, pois cada vez que falo sobre minha pesquisa as pessoas perguntam: “Por que?” Sei que é um assunto complicado e cheio de tabus, mas me pergunto: por que não pesquisar? Vivemos em uma sociedade marcada pelo apego a coisas materiais, e que parece ter deixado de lado lembrar que somos seres finitos. Frente a esta situação verifiquei em vários momentos que existe um despreparo de enfrentamento quando esse momento chega. E aqui me refiro tanto ao despreparo da pessoa que enfrenta o fenômeno, pois todos nós vamos passar por esta etapa um dia, quanto (e principalmente) ao despreparo dos profissionais que lidam com o momento da morte. Sobretudo das pessoas que trabalham em hospitais, asilos e outros locais destinados a cuidar de pessoas idosas e/ou enfermas. A forma como as pessoas compreendem a morte é muito singular, depende muito de seu entendimento e o modo como as pessoas ao longo de sua vida lhe fizeram entender a finitude. Desde cedo as pessoas vão ter contato com as perdas, seja de um ente querido ou de um animal de estimação, mas a realidade desta perda vai ter sentido a partir da adolescência, época a partir da qual o indivíduo começa a entender o que realmente é a morte. E, desde então, evidenciamos que este fenômeno é alvo de adiamento ou repulsa, que é a única certeza que temos mas que é carregada de circunstâncias incertas quanto ao seu antes, durante e depois. Se inicia já diante dos primeiros contatos com a morte a repulsa ou negação acerca da ideia representada pelo fenômeno que transforma presença em ausência.

A consciência da morte não é algo inato, e sim produto de uma consciência que capta o real. É “por experiência”, como diz Voltaire, que o homem sabe que há de morrer. A morte humana é um conhecimento do indivíduo (MORIN,1997, p. 61).

  

A possibilidade de melhor se entender e por isso aceitar a finitude comumente se verifica na fase da velhice, quando entendemos que esta é a última etapa do ciclo de desenvolvimento humano. Mesmo assim, a cultura em que vivemos nos força de alguma forma a negar que em algum momento podemos não estar mais presentes neste plano, e a vida cada vez mais atribulada e cheia de imediatismos muitas vezes não nos permite tempo para reflexões mais abstratas e sobre eventos futuros como a morte.

Muitas vezes ao longo da vida vamos presenciar situações nas quais inúmeras desculpas serão utilizadas para adiar falar sobre o assunto, e mesmo quando tivermos a possibilidade de discutir o tema, muitas vezes seremos induzidos a negar e adiar, como se fosse um assunto proibido. Não podemos deixar de lembrar que o ser humano se diferencia dos outros animais por ser o único a ter consciência sobre a finitude, tendo a real representação do que é de fato a morte.

Marcelo Franco

* MORIN, E. (1997). O homem e a morte. Rio de Janeiro (RJ): Imago.


Haicais em Cidreira

HAICAIS VeJo senTido no Meu desaPreÇo, Saudades No meU deSapeGo, Apego nO meU reCoMeçO. aManheCeu Em maiS Um diA. Olhos CanSados aPós noiTe ...