sábado, 13 de junho de 2020

Diálogos contemporâneos


                                                                        


Ainda nos tempos atuais, fazer uma separação entre religião e espiritualidade exige um esforço além do estudo científico. A crença e a investigação não estão demarcadas claramente, a sociedade ainda reforça referências subjetivas que não se apoiam em nenhum embasamento científico. A forma como um Deus é visto, tanto nos dias de hoje como no passado, demonstra como a subjetividade tem um forte poder de influenciar a vida atual, demonstrando que pode vir a distorcer emoções e comportamentos.

O termo psicologia, por incrível que pareça tem como raiz etimológica psiché (alma) + logos (razão, estudo). Inicialmente a proposta de estudo da psicologia seria a compreensão do espírito, mas esse estudo em algum momento acabou se perdendo com o passar dos tempos, se concentrando mais na razão científica e concreta, infelizmente. O sentir, intuir, atuar, saber e amar que são sentidos primordiais do homem verdadeiro (onde não existe o mal e o bom, mas sim apenas o puro, o verdadeiro, o transparente), continuam abafados e esquecidos, uma vez que foram castrados no homem pensador, que descarta de todas as formas olhar para si mesmo.

Os paradigmas da psicologia contemporânea não permitem que esse mesmo homem que hoje se enxerga de forma alterada e que, na verdade, nunca deixou de ser ele mesmo, reconheça que a espiritualidade seja um fenômeno verdadeiro e que, como qualquer outro tipo de estudo, apresente suas peculiaridades e subjetividades. Na atualidade, a ciência política moderna considera o ser separado da natureza, ou mesmo de seu estado de natureza. Nietzsche aponta esse como um dos principais enganos da teoria política moderna. Sendo assim, podemos identificar que um dos maiores equívocos da psicologia em geral, foi não ter acoplado a visão espiritual na mudança de paradigma do homem como um ser biopsicossocial. Esqueceu-se que ao seu redor não existem somente coisas concretas e comprovadamente científicas, e sim também os fenômenos inexplicáveis. Segundo, Ludwig Feuerbach, o homem não é radicalmente livre, pois sua condição é a natureza. De alguma forma, podemos compreender nesse sentido o medo do homem de aceitar o próprio inexplicável, (como esse mesmo homem vai acreditar em um Deus? pois Deus não se explica! Ou se explica?).

Por outro lado, temos que a “neofobia” – ou o medo do novo, do desconhecido -, sempre foi um desafio para a humanidade, sempre trazendo a insegurança quando percebida, no momento em que o indivíduo se depara em um novo território de conhecimento. O transpor barreiras, o desconstruir de forma benéfica, para após construir algo melhor, sempre foi visto como ruim. Mas segundo Friedrich Nietzsche, não enxergar o mal é deixar de lado o recomeçar. Algo como não oportunizar ao homem transpor essa barreira. Nietzsche observa que o negativo é o fermento indispensável de toda criação. Empenhar-se em eliminar esse mal-negativo é, portanto matar no homem o princípio vital da superação de si. “O novo, de qualquer modo, é o mal, visto que é o que quer conquistar, derrubar as fronteiras, abater as antigas devoções; só o antigo bem!” (livro Gaia Ciência)

Percebe-se que a conexão da nova psicologia e da antiga está engatinhando ou mais aquém, no útero dessa junção. Com isso, fica lançado o desafio para todos profissionais envolvidos nestas áreas do conhecimento: desenvolver novos estudos e abordagens que de alguma forma possam abranger não somente a razão, mas também relacionar a espiritualidade e religião, em possíveis estados alterados de consciência.

 

Marcelo Ávila Franco

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Do inferno para a terra: Lucifer Morningstar

                                                      


                                                        


“No princípio... O anjo Lúcifer foi expulso do céu. E condenado a governar o inferno para sempre. Até que ele decidiu tirar férias.”

E assim começa a narrativa da série Lúcifer em Los Angeles em 2016 D.C. Das HQs para as telas, a série Lúcifer chegou conquistando inúmeros fãs.

Logo no início da primeira temporada, já se pode ter uma ideia do que o seriado vai nos oferecer em termos de entretenimento. A primeira cena é de uma policial abordando o diabo, e nesse momento Lúcifer usa seus poderes e suborna o policial, aonde durante toda série ele busca nos desejos dos humanos as suas fraquezas, e assim consegue provar que, as pessoas tem pensamentos diferentes para não dizermos pecaminosos.

Lúcifer é um tipo clássico de narcisista, onde coloca sempre a busca de imagens artificiais, ignorando a essência e a profundidade dos sentimentos.  O personagem se caracteriza por peculiaridades, onde faz uso dos outros para assim gratificar suas necessidades pessoais e egocêntricas, e após descarta as pessoas por não terem mais nenhuma utilidade a ele. Seguindo nesta linha, é possível constatar que, podemos delinear um paralelo entre o comportamento do personagem e o transtorno de personalidade narcisista. Constatando nas atitudes do personagem, um comportamento que podemos encontrar em nossa sociedade e que, na maioria das vezes é negada por quem demonstra esse tipo de comportamento.

Lúcifer Morningstar gosta de falar de si mesmo, ressalta sempre suas qualidades, contando vantagens nas situações que acontecem em seu cotidiano na terra, não se importando com o sofrimento que causa nas pessoas e chegando até humilhar os outros para se sentir melhor. O transtorno de personalidade narcisista, que explora as relações interpessoais, e que é mais comum nos homens, trás os seguintes sintomas em seu comportamento: a incapacidade de lidar com críticas, o desrespeito pelos sentimentos alheios, à necessidade de se sentir admirado, se achar grandioso e desprezar as outras pessoas. Além disso, os indivíduos que tem esse tipo de transtorno se tornam arrogantes e acreditam serem especiais, o que para nosso personagem da série Lúcifer que também é conhecido como, “estrela da amanhã”, “filho da alva”, "o que brilha", "o que trás a luz", ou simplesmente o tradicional Diabo ou Satanás como é conhecido por muitos. Sendo assim, se verifica que, o principal protagonista da série demonstra um comportamento clássico narcisista.

Sigmund Freud, pai da psicanálise, introduziu o termo no discurso psicanalítico para fazer referência à escolha sexual dos invertidos, como eram chamados os homossexuais na época. Freud acrescenta, que as investidas libidinais poderiam ser direcionados ao próprio ego ou a objetos, e assim constatamos em nosso personagem (Lúcifer) que passa a maior parte de seu tempo na série televisiva, realizando festas regadas com muita bebida, mulheres e tudo que envolva luxuria e pecados que direcionam um imenso desejo e culto ao corpo. Além disso, o anjo caído é dono de uma casa noturna na cidade de Los Angeles, que como dono e pianista passa seus dias tocando sucessos de Jazz.  

Mas a série trás uma temática interessante, onde Lúcifer passa por momentos difíceis e conflitos pessoais, tendo que procurar uma terapeuta para poder entender o que está acontecendo com seus sentimentos. E meio a tudo isso, o protagonista ajuda a bela detetive (Chloe Deker), a desvendar crimes que acontecem na cidade de Los Angeles, e assim a série se desenrola de forma a fazer o diabo entrar em crise de existência, por não entender muitas vezes o comportamento dos humanos. Mas um ponto crucial no enredo, é que ele não nunca mente e sempre fala a verdade, e apenas usa o desejo mais obscuro dos seres humanos para poder assim condená-los. Ah sim, e ele adoro ver o circo pegar fogo, fica claro eu seu comportamento. E você, tem algum desejo? Esconda-o, pois o diabo está na terra.

 

Marcelo Ávila Franco 

 

Bibliografia:

FREUD, S. (1914). Sobre o narcisismo: uma introdução. IN;___. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas. 1. Ed. Trad. Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1974, v. p.85 – 119.

 


segunda-feira, 8 de junho de 2020

A morte do Capitão América: e as fases do luto dentro da cultura pop

                                                              

             


Uma lenda é contada através dos tempos, modificando-se pela imaginação do povo, que aos poucos acaba por delinear novos contornos à tradição. Quando falamos do personagem fictício “Capitão América”, logo vêm à tona em nossa mente adjetivos originados por seus feitos, seu modo de ser, sua bravura e espírito guerreiro.  Nas histórias em quadrinhos sempre foi um homem que arriscou sua vida por seu país, o que por si só já o fez ser considerado um herói.

            Quando sentimos a perda de alguém querido, passamos por algumas fases, chamadas fases do luto. Na história fictícia “Morre uma lenda” a situação de perda da figura do Capitão América, vivenciada pelos heróis envolvidos nessa trama, evidencia que as fases do luto estão presentes nos sentimentos dos outros heróis e que, por mais que sejam super-heróis, eles também têm sentimentos iguais aos de pessoas comuns.

            Desde o início da história, podemos presenciar os heróis perdendo o controle dos sentimentos e deixando as emoções falarem mais forte. A morte de Steve Rogers é mostrada como um episódio importante e muito triste, principalmente para os seguidores e amigos do Capitão América. O enredo se desenvolve de forma bem pesada a partir deste tabu da sociedade chamado, “a morte”. Capitão América é assassinado e sua morte se torna um mistério, pois nem as autoridades e nem os heróis conseguem descobrir quem foi o autor dos disparos que mataram o herói, fato que torna a trama mais misteriosa e enigmática.

            As fases do luto tornam o indivíduo mais suscetível a sentir-se fragilizado nesse processo, no qual os sentimentos se mostram mais fortes que nossas próprias vontades os quais, por vezes, tornam a situação temporariamente fora de controle. A negação, raiva, barganha, depressão e a aceitação se constituem etapas emocionais subsequentes e decorrentes do episódio da morte de alguém querido.

 Já no início da história a negação toma conta de alguns personagens, que por não aceitarem a morte do Capitão América, sentem dificuldades em assimilar os fatos que envolvem a tragédia. Nesta etapa, este sentimento leva o personagem Wolverine à atitudes extremadas, em busca da identidade do assassino de Steve Rogers, negando totalmente o ocorrido.

Na sequência dos capítulos são apresentadas as fases seguintes do luto, surgindo a raiva como a forma da impossibilidade do ego em manter a negação e o isolamento. A pessoa expressa sua raiva pelo fato que ocorre, projetando no ambiente externo toda sua revolta com o acontecido. Nesse momento da história, alguns personagens estão jogando pôquer, tentando se distrair de alguma forma, para esquecer o momento difícil, o que não acontece com certeza, pois externam sua raiva por qualquer motivo que venha a surgir durante o jogo, externando de maneira intensa e desproporcional este sentimento, diante de eventuais motivos fúteis.

            Sempre é muito difícil aceitar a morte, é um acontecimento sempre indesejado em qualquer contexto, sendo que algumas pessoas conseguem encarar esse fenômeno com naturalidade e outras nem tanto. Então, quando se percebe que o sentimento de raiva não teve sentido algum e a negação também não alterou a situação, aparece a barganha. Neste momento se busca uma forma de negociar com o inegociável, imutável. Em nossa história, esta fase do luto é nitidamente apresentada na figura do Homem de Ferro que, em determinada situação, faz uma proposta astuta para o Gavião Arqueiro, na qual idealiza se tornar o Capitão América e, assim, tentar enganar a população e diminuir de alguma forma o sentimento de perda. Mas Gavião Arqueiro, apesar de chegar a avaliar a proposta, acaba não a aceitando em consideração e respeito à figura do Capitão América.

            Que o Homem Aranha sempre foi fã um do Capitão América isso já se sabe, e com ele as fases não seriam diferentes. Nosso jovem herói fica preso à fase da depressão. De forma introspectiva e isolada, ele passa pela fase de sofrimento profundo. Tristeza, desolamento, culpa, medo e desesperança, são emoções comuns nessa fase. Nesta etapa, a pessoa fica introspectiva, fragilizada e acaba se isolando de tudo e de todos. É um comportamento posterior e natural, após tornar-se evidente a constatação de que negar não resolveu, se revoltar também não e de que a barganha não teve efeito. Como caminho natural, restando somente o sentimento da perda, adentra-se na fase da depressão.

            Na fase seguinte do luto, em razão do tempo e das vivências por ele trazidas em cada fase do luto, as emoções já não estão à flor da pele, Os envolvidos entram na fase de aceitação. Os Vingadores, O Quarteto Fantástico, os Jovens Vingadores, pessoas famosas e outras menos famosas se fazem presentes na despedida do Capitão América, e a realidade da morte não se tem mais como negar. O que interessa nessa fase é que a pessoa se permita viver a aceitação em paz e com dignidade, o que não a constitui ou caracteriza essa fase como um estágio feliz, mas sim como uma etapa final na qual não se identifica a expressão de sentimentos de forma intensa.

Em “Morre uma lenda”, podemos notar que as fases do luto aparecem de forma organizada, mas isso não equivale dizer que as fases vão ocorrer sempre de forma sequencial para todos, pois podemos vivenciá-las de forma desorganizada.  Pode-se ir direto a fase da barganha, e em seguida retornar a fase inicial da raiva sem algum motivo aparente, pois cada pessoa vai ter uma forma singular de encarar a morte.

Marcelo Ávila Franco

*Capitão América: Morre Uma Lenda. Coleção Oficial de Grafic Novels Marvel, Nº51. São Paulo, SP: Editora Salvat do Brasil Ltda, 2014.

*Kübler-Ross, E. Sobre a morte e o morrer: o que os doentes têm para ensinar aos médicos, enfermeiras, religiosos e aos seus próprios parentes. São Paulo, Martins Fontes, 1996.

 

 


Lex Luthor: poder, status e prazer

                                                                            


Partindo de interpretações do filósofo Michel Foucault, podemos traçar relações de poder simbólico, que são atuantes em diferentes sociedades. Os jogos de poder estão presentes nas narrativas das histórias em quadrinho, sempre repletas de conflitos entre heróis e vilões. Nesse sentido, os vilões são parte marcante nessa relação, e alguns deles não passam despercebidos por sua refinada característica singular de personalidade anti-social. Que vivem em busca de poder, status e prazer.

Lex Luthor adora o poder. Quem já leu qualquer Hq que o personagem esteja presente, sabe disso. Mas de onde vem todo esse desejo incontrolável de buscar esse poder? O prazer  que o poder proporciona a algumas pessoas é surpreendente, e Lex está entre essas pessoas.  Este é um dos três principais itens que formam a personalidade de um psicopata. Seria então Lex Luthor um psicopata ?

Luthor é um personagem rico e poderoso que faz de tudo para buscar seus objetivos, o que poderia ser enquadrado até como um Maquiavél, pela forma que age com quem ousa atrapalhar seus planos, sem ter piedade de ninguém, sempre visando o poder, statos e prazer, ingredientes básicos de um clássico psicopata. Ele não tem nenhum super poder e não esconde sua identidade, mas é provido de uma inteligêncial sem igual.

Apesar de ser proprietário da corporação LexCorp, não parece satisfazer-se com o que está a sua volta, precisa conquintar o que não está ao seu alcance, apenas por conquista, soberba ou por puro sentimento de possuir o prazer.

                Sua obsessão para conquistar coisas singulares o torna um personagem diferente, arquitetando um plano que domina todo enredo das histórias, no qual tem atitudes cada vez mais obscuras e suspeitas. Sem deixar de ser ele mesmo, com um comportamento refinado mas desconcertante, vai deixando um rastro de destruição por onde passa, sempre buscando dominar alguma coisa, objetivando poder, statos e prazer com suas atitudes.

            Os psicopatas são assim, não tem sentimentos, se importam apenas com eles mesmos, não se preocupam com sentimento, não demonstram empatia pelo outro. Vivem em sociedade como predadores, desenvolvem uma personalidade diferente daquela de quando estão buscando seus objetivos, parecendo pessoas normais, convivendo entre as pessoas. São capazes de cometer seus crimes e mesmo após serem pegos, negarem veemente que não os cometeram, demonstrando dissociação extrema pois fica dificil desconfiar de alguém cometendo crimes barbaros quando se mostram como pais de família, com esposa, filhos, empregos fixos e até mesmo fazendo trabalhos voluntáreos com idosos e crianças carentes.

Apesar de todo esse comportamento complicado e perigoso para quem vive em sociedade, para as histórias em quadrinhos ele tem uma importância diferente, pois se transforma em um elemento crucial para o enredo das histórias e trás um sentido singular na vida dos super-heróis, pois sem eles o herói não teria uma busca.

            Mas fica a pergunta: apesar de toda maldade, frieza, falta de empatia e sua busca contínua pelo poder, sem Lex Luthor nas histórias do Superman, as HQs teriam algum sentido?

 

Marcelo Ávila Franco

 

 

 

 

 


domingo, 7 de junho de 2020

Hey Ho Let's Go! Joey Ramone e a sua convivência com o TOC

                                                                        


Em 19 de maio de 1951 nascia Jeffrey Ross Hyman, conhecido por “Joey Ramone”, vocalista dos “Ramones”, uma das bandas mais importantes do cenário Punk Rock mundial. Ainda jovem, enquanto Joey morava no Queens, bairro novaiorquino,  conheceu os amigos Tom Erdélyi (Tommy Ramone), Douglas Glen Colvin (Dee Dee Ramone) e John William Cummings (Johnny Ramone), que viriam a formar com ele a banda Ramones.

            Mas a vida de Joey não foi fácil, o astro do rock conviveu com o “TOC” ou Transtorno Obsessivo Compulsivo, transtorno mental que se caracteriza pela presença de obsessões, compulsões ou ambas. Estar preocupado excessivamente com sujeira, lavando as mãos o tempo todo, ter pensamento focado na contaminação que lugares públicos como banheiros e restaurantes possam causar são exemplos de situações que causam sofrimento aos portadores do transtorno. Isto sem contar outros hábitos ou impedimentos, como arrumar uma cama repetidas vezes, não passar perto de cemitérios com medo que possa acontecer uma catástrofe, que são igualmente comumente observados no comportamento de quem convive com o Transtorno Obsessivo Compulsivo - TOC. Este tipo de comportamento repetitivo, também conhecido popularmente como “mania” constitui-se por manifestações que torturam as pessoas que com ele convive de forma quotidiana, deixando o indivíduo muitas vezes incapacitado de conviver socialmente, devido ao desconforto e sofrimento que acabam por acarretarem ainda mais prejuízos pessoais. O TOC vem acompanhado de medo, ansiedade e culpa, tomando muito tempo na rotina diária do indivíduo.

            No caso do vocalista Joey Ramone, o TOC foi diagnosticado ainda na adolescência. A convivência de Joey com os outros integrantes da banda não era fácil, os comportamentos obsessivos lhe causavam desconforto com os outros músicos, Joey acabava muitas vezes até mesmo ficando hospedado em um andar diferente no hotel, devido à necessidade de abrir e fechar a porta do quarto para atravessá-la inúmeras vezes. Outras “manias” incluíam acender e apagar a luz do quarto repetidamente, deixar a torneira da pia aberta por horas e ficar descendo e subindo várias vezes uma escadaria passando a mão no corrimão, contando os degraus de forma desenfreada. Com esse comportamento Joey atrasava a banda nas turnês, pois por muitas vezes estavam todos o esperando dentro da Van para seguir viajem enquanto Joey estava ocupado com os rituais que não conseguia deixar de executar. Para evitar atrasos nos check outs dos hotéis nas turnês, o empresário muitas vezes impedia Joey de tomar banho, para que o vocalista não sentisse a necessidade dos rituais que persistiam em acompanha-lo diariamente.

            Resolvi fazer essa matéria não apenas por ser um fã da banda, mas para mostrar que o TOC não tem fronteiras, não está restrito a classes ou a qualquer critério de seleção. As pessoas podem ser acometidas indiferentemente da condição social, cor, raça ou credo. É preciso ter um olhar mais refinado para esse tipo de transtorno, que causa um sofrimento imenso tanto para quem sofre de TOC quanto para os familiares que convivem com o paciente. São muitos os famosos que sofrem desse transtorno e com certeza você que agora está lendo deve conhecer algum parente ou mesmo amigo que sofre de Transtorno Obsessivo Compulsivo. O TOC tem tratamento, cada caso deve ser avaliado individualmente, mas medicamentos e psicoterapia constituem a essência da fórmula para se conseguir um retorno à vida normal, além do apoio da família e amigos, sempre.

 Marcelo Ávila Franco


O jovem Freud e a interpretação dos sonhos

                                                                       


Que as histórias em quadrinhos podem assumir um importante papel no desenvolvimento cognitivo e intelectual do indivíduo, já está comprovado. Mas, além disso, as HQs continuam se destacando no campo educacional, onde as imagens e as sequências de desenhos atraem e auxiliam de forma singular a melhorar o desenvolvimento do indivíduo na medida em que agrega vocabulário e acrescenta maior agilidade ao seu raciocínio.

A Arte sequencial, área pertinente ao estudo e pesquisa dos quadrinhos, permite que de alguma forma a criança, mesmo antes de aprender a ler, compreenda o sentido da história animada. Os quadrinhos ajudam a criança pensar melhor, aguçam sua observação, aumentam a concentração, desenvolvem a criatividade e a ambientam com as letras e outros sentidos cognitivos.

Mas podemos enfatizar que não apenas as crianças e adolescentes se aproveitam da leitura de quadrinhos. Hoje, com o crescimento dos tipos de HQs e surgimento das diferentes linhas e estilos de histórias, outra faixa etária está se interessando e beneficiando com esse tipo de leitura, os adultos. Atualmente já encontramos lojas especializadas em histórias direcionadas ao público adulto, que é um forte consumidor de HQs e seus diversos formatos.

Entre os formatos de HQs, existe um que é interessante pelo seu formato que vem sempre desenhado em preto e branco, trata-se dos Mangás, que são de origem japonesa e seu consumo cresce absurdamente entre os apaixonados por quadrinhos. Nessa linha podemos citar uma versão do livro A interpretação dos sonhos de Sigmund Freud, que traz de forma interessante o início das pesquisas desse importante psicanalista, em versão mangá.

A interpretação dos sonhos, de Sigmund Freud é um livro onde o psicanalista pesquisa os sonhos dos pacientes. A edição da obra que irei comentar é mais singular, pois consiste em uma versão pocket em quadrinhos, ou melhor, dizendo, em Mangá, um gênero de história que mescla a cultura japonesa clássica com as HQs ocidentais.

Nessa versão pode-se conhecer um pouco da história de Sigmund Freud, desde o início de sua carreira como estudante e pesquisador. Narra sua dificuldade em descobrir o que acontecia com pacientes que se diziam doentes, quando os médicos da época não acreditavam em suas doenças, pois não entendiam o que se passava, e atestavam “eles não tem problema algum, mas sentem sintomas de doença por imaginação ou fantasia” (pag. 15). Os conflitos com outros pesquisadores da época que discordavam das ideias de Freud, passando por seus próprios conflitos pessoais e sua auto avaliação também são abordados pelo autor. Além disto, o livro contém relatos de palestras que iniciaram os estudos da psicanálise em 1917, originando conceitos que deram fundamento a outros títulos importantes como “O mal-estar na cultura” (1930). O mangá reúne algumas das principais ideias do psicanalista, que explora a vida em sociedade e o inconsciente, não deixando de citar passagens importantes da trajetória deste importante pensador que viveu sua vida para o estudo do comportamento humano. Essa obra consubstancia o limite entre os artigos pré-psicanalíticos de Sigmund e o início da psicanálise.

O formato da publicação, com aparência de quadrinhos, inova e desperta a atenção dos adolescentes, motivando a leitura, levando ao mundo do adolescente um texto mais solto e leve, mas não menos comprometido.

Sigmund Freud nascido em 6 de maio de 1856 na Áustria, hoje República Tcheca, era filho de Jacob Freud e Amalie Nathanson, que tinham origem judaica. Freud casou-se com Martha Bernays com quem teve seis filhos, entre eles Anna Freud, futura psicanalista.  Podemos descrever informalmente o quotidiano de Freud como o de um homem que trabalhava por longas horas e adorava ficar com os filhos durante as férias de verão.

O jovem Freud desde cedo demonstrava que seria um grande pesquisador, seu empenho e dedicação nos estudos mostravam o que o futuro psicanalista desejava. Sua esposa mostrava-se uma mulher dedicada ao lar, possibilitando que o esposo se dedicasse ao máximo às pesquisas e casos, o que lhe tomava o maior tempo de seu dia-a-dia.

Essa história em versão mangá, que tem a tradução da versão japonesa feita por Drik Sada, é dividida em seis capítulos, que evoluem desde a introdução da psicanálise, abordando o desbravamento da mente e a interpretação dos sonhos, seguindo através da abordagem dos movimentos da psicanálise, até culminar com desfecho que ressalta o teor de “O mal-estar na cultura”. No início, Freud é um simples estudante de medicina, que junto a outros médicos tentava desvendar os mistérios e possíveis causas de doenças ainda não entendidas pela medicina da época. Ganhou uma bolsa de estudos, mas por ser judeu descobriu que nesta instituição teria dificuldades para desenvolver suas pesquisas e ser aceito como outro estudante qualquer “Não há talento que alcance o sucesso num ambiente que não o reconhece” (pag. 28).

O mangá segue mostrando as dificuldades do jovem cientista em descobrir o que realmente acontecia aos pacientes que sofriam, mostrando-o sempre dedicado e de certa forma obcecado pelo conhecimento e por futuras descobertas. Ele viaja para Paris, onde participa dos seminários do professor Charcot que estuda sintomas de histeria por meio da hipnose. Freud não consegue as respostas que procura, mas a experiência foi válida e nosso jovem Freud segue estudando a mente humana e volta para casa, momento a partir do qual começa a atender pacientes.

Histeria vem do grego “Hysteron”, médicos da época se valem de termos antigos para vincular os termos científicos. Freud segue seus estudos, mas encontra resistência de alguns colegas da época, o que lhe faz se dedicar ainda mais aos estudos. Nisso surge o caso de “Anna O”, que se tornaria um ponto importante para as futuras descobertas do jovem Freud, que segue atendendo seus pacientes segundo suas convicções e estudos particulares.

“Sinta-se livre. E vá contando o que vier à cabeça. Por mais banal que seja. Pode tentar associar uma coisa a outra, para ir recordando” (pag. 109). Assim começavam as sessões de Sigmund Freud, chamando futuramente de “livre associação” ou “associação livre”. Com o desenrolar da história, Freud consegue aprimorar o método e fazer descobertas muito importantes para a ciência, batizando a metodologia por ele desenvolvida de “Psicanálise”.

Ao longo do mangá, seguem aparecendo às descobertas do jovem Freud, tais como relação do complexo de Édipo e conceitos fundamentais como Id, Ego e Superego, além de outros como os relativos à Narciso, sublimação e negação. Além do seu rompimento com o jovem Carl Gustav Jung, que já não tinha a mesma sincronia para futuras descobertas, as pequenas diferenças conceituais entre eles não puderam ser mais ignoradas, fazendo cada um seguir o seu caminho.

Freud ainda enfrentaria a primeira guerra mundial, “Era a eclosão da Primeira Guerra Mundial..... uma batalha que expôs todo o instinto cruel que o homem, ao longo da história, foi incapaz de domesticar”. (pag. 191) Sigmund Freud após todas essas dificuldades seguiria com suas pesquisas, seminários e palestras ao longo de sua vida.

Marcelo Ávila Franco

*A interpretação dos sonhos / Sigmund Freud; 1. ed. – Porto Alegre, RS: L&PM, 2015.

 


Só por hoje eu não quero mais chorar...Só por hoje eu vou me construir

 

Porque de forma inconsciente as pessoas sofrem? A felicidade é algo que você mereça? Ou mesmo, você quer ser feliz? Algumas pessoas sentem medo de encontrar a felicidade por mais absurdo que isso possa parecer. Muitas pessoas no momento de alcançar a glória resolvem seguir outro caminho, o do sofrimento.

            A dor pode ser tanto física como emocional e ela acontecerá em algum momento de nossas vidas, quer o indivíduo queira ou não. Não se pode negar que os poetas, os escritores de romances e até filósofos precisam da dor, para assim poderem fazer suas obras. Ninguém pode falar de amor sem ter sofrido por amor, não se fala de algo que não se vivenciou, sentindo a dor se pode falar sobre ela. O choro, as lágrimas, o rosto triste, as dores sem motivo aparente que nem a medicina explica, sentimentos inexplicáveis acontecerão. Pense em um retrato, um cheiro, um filme de terror, um local, um instante qualquer, qualquer um desses seria o suficiente para relembrar o sentimento de uma dor do passado.

            Ainda hoje não enxergamos que são as pequenas coisas que valem mais, a compreensão humana entre o que faz bem e o que faz mal ainda não alcança o essencial. Ou, como diria o poeta, os bons morrem jovens, vão embora sempre cedo demais, assim é nos filmes de romance, nas peças teatrais e nos livros, onde a dor prevalece. O ser humano no fundo tem uma busca pela dor, pelo sofrimento da perda e até da dor emocional.

A felicidade é uma mentira, onde todos acreditam que sendo felizes terão vida plena e verdadeiramente completa. Vivemos em um mundo de violência, desigualdades e rupturas, onde a política e a igreja tomam conta das vontades alheias. Acreditar que o câncer é vontade de Deus, é uma forma cega de aceitar as incertezas do futuro ou que aceitando a vontade de Deus, vai amenizar o sofrimento da dor de quem fica ou mesmo de quem vai, é uma grande ilusão.

“Eu não me perdi e mesmo assim você me abandonou você quis partir, e agora estou sozinho”, Renato Russo queria dizer o que com essa frase? Será mesmo que não buscamos o sofrimento? Que a solidão transforma o ser? Faz-nos mais fortes? Aprendemos a nos conhecer, sentindo o verdadeiro, o essencial que está dentro do ser. Segundo Jaques Lacan, “Amar é dar o que não se tem a alguém que não o quer”, uma forma de investir a necessidade do desejo pessoal ao outro, esperando uma resposta, um reconhecimento constituindo a identidade do sujeito, uma forma de narcisismo primário, uma imagem de si confirmada pelo outro.

 

Marcelo Ávila Franco


Bate papo e um bom café, do que mais preciso?

                                                                                  

             Quem não gosta de um bom café? Bem, existem pessoas que não tomam café, aquele cafezinho preto bem quentinho, que só de pensar no aroma que ele exala já me deixa com água na boca. Mas são escolhas e devemos respeitar quem não aprecia um café, até porque também não estou aqui para falar de quem não toma café e sim de quem o usa como uma boa desculpa para simplesmente proporcionar um bom bate papo.

            O café é uma bebida que o Brasil exporta para mais de 120 países e poucos sabem disso... é minha gente, nós temos café no bule, e de ótima qualidade. Café esse que em finais de tarde consegue unir todas as classes para uma boa conversa e, ao aproximar pessoas, elas dividem informações, fazem negócios, jogam conversa fora e até fazem confidências, quando mais íntimos. Isso nos mostra que o ser humano não nasceu para viver sozinho, como já dizia o filósofo. Precisamos de amigos, vizinhos, parentes ou até um desconhecido, para dividirmos uma boa xícara de café, ocasião na qual presenciamos aquele frente a frente, aquela conversa olho no olho, que muitos estão deixando de lado, ao esquecerem que uma “conversa on line” nunca terá o mesmo sentido que estar na presença do outro olhando para você, podendo escutar as risadas, ver a expressão de felicidade do outro, dispensando a digitação incessante. E não é só isso, ao final de cada conversa há a possibilidade de poder dar aquele abraço bem apertado no amigo, colega, companheiro ou sei lá quem, permitindo a despedida de forma acalorada e sincera.

            Interessante é que na lista de países que consomem mais café no mundo estão Finlândia, Noruega, Islândia, Dinamarca e Holanda, sendo surpreendente nosso país estar ocupando o 15º lugar na lista de consumidores de café. Seguindo a lista aparecem somente países da Europa e acabo ficando espantado com a importância que esses países dão a um bom café. Será que os brasileiros não são tão acalorados assim? Ou algum outro fenômeno explique este fato? Sei lá! Também não importa, o que importa é que precisamos cultivar os encontros de café, onde as pessoas possam dividir abraços, olhares e até conhecimento. Hoje esta na moda os encontros de café filosófico, onde um palestrante fala sobre um tema específico e uma plateia de pessoas fica atenta ao conhecimento transmitido, mas sempre acompanhada de um bom café.

            Alguns estudos feitos por pesquisadores chegaram à conclusão de que quando ficamos expostos ao aroma do café, algumas alterações acontecem em nosso corpo, acabamos relaxando e isso acaba nos conduzindo a uma diminuição de estresse significativa. Então eu pergunto a vocês, o que estão esperando para convidar um amigo, um vizinho ou mesmo um colega de trabalho para dividir uma saborosa xícara de café e poder desfrutar de um momento único. Melhor do que isso só se houver a possibilidade deste momento único ser repetido todos os dias. E aí? Alguém gostaria de tomar um café comigo? Está feito o convite.

               Marcelo Ávila Franco


“El día de los muertos”

                                                                         


O México é um país conhecido por sua culinária, sua música e seu carisma, mas há um assunto no qual eles surpreendem as outras culturas: “la muerte”. Pois é, os mexicanos possuem a tradição de comemorar o dia dos mortos, constituindo-se numa festa tradicional na qual a atmosfera que a permeia pode ser comparada com o nosso famoso carnaval. Muitos bonecos, alegorias e cores compõem a festividade, que ocorre anualmente entre os dias 01 e 02 de novembro. Podemos dizer que a celebração manifesta avesso de tristeza, luto e dor, comemorando a lembrança daqueles que não irão mais voltar com muita alegria e cores, maciçamente desenhados nos rostos em imagens de “cavaleras” (caveiras) ou mesmo esqueletos, sendo ainda presentes nas alegorias e adereços de casas e prédios nas cidades mexicanas. Além disso, outra curiosidade que se destaca para nós brasileiros ou para aqueles que não cultivam esta tradição é a que se refere às oferendas ofertadas aos ancestrais, constituídas por muitas comidas, doces e bebidas, tudo de modo muito farto. Podemos dizer que o povo comemora as vidas de seus ancestrais que, simbolicamente, nessa época retornam ao mundo dos vivos. Dada a importância e intensidade que caracterizam esta comemoração, executada sempre com muito carinho e imenso respeito para com aqueles que já não se encontram entre nós, verificamos o diferenciado modo através do qual cada indivíduo ou cultura lida com o significado da finitude da existência humana. Morte segundo o dicionário quer dizer o fim/cessação da vida e, em geral, causa medo. Mas, dependendo de onde estivermos, é um evento cuja abordagem ocorre de inúmeras formas, que incluem os mais distintos rituais, baseando-se nas mais variadas crenças. Se tratando de Brasil, estamos nos acostumando a vê-la estampada por todos os lados, digo todos os lados e ângulos mesmo, chegando até nosso conhecimento através de jornais, noticiários, redes sociais e até via whatsapp, em forma de notícias ou manchetes alardeadas em ritmo acelerado, em primeira mão. Hoje não se enxerga um respeito por aqueles que se foram em nosso país, bem pelo contrário, basta ter um desastre como a queda do avião da Chapecoense, que com certeza receberemos fotos de envolvidos no desastre como se fosse algo qualquer. Não pensamos em um familiar que vai se deparar com esse tipo de situação, abrindo uma mensagem de whatsapp em seu telefone e visualizar um familiar morto, seu pai, seu irmão ou mesmo um amigo querido. Não nos colocamos no lugar do outro, creio que através dos anos não conseguimos entender e desenvolver o conceito de empatia, de apenas e unicamente se colocar no lugar do outro, tão importante em certos momentos. Onde está o respeito por aqueles que se foram? Onde está a consideração pela perda? Onde está o respeito pela morte? Existem países que encaram a morte de frente, como o México, que celebra a finitude, reservando alguns dias do ano para lembrar os que se foram. A festa dos mortos movimenta a sociedade mexicana, rádios, jornais e noticiários reservam um momento para lembrar a importância da festividade. Outra curiosidade são as famílias que agregam ao costume da festa o ritual de abrir os túmulos, retirar os “muertos”, limpar os restos mortais, e, em seguida, recolocar os “muertos” de volta a suas tumbas, para mais um ano de descanso. Inusitado, diferente, incomum, exótico, díspar, poderíamos adicionar muitos adjetivos a toda essa tradição, mas nada se sobrepõe ao respeito que esse povo tem por seus ancestrais, através da exaltação e manutenção de sua cultura, que nos revela uma abordagem muito peculiar acerca da morte, corroborando a perpetuação do conhecimento sobre seus próprios valores, histórias, crenças e virtudes, tão rara e necessária em nossa atualidade.

Marcelo Ávila Franco

O mundo bizarro musical e teatral de Tom Waits


 

Se de alguma forma existe um mundo paralelo, podemos dizer que nesse mundo existe um cara chamado Tom Waits. Músico, ator e pai de família, Thomas Alan Waits é um músico de Jazz que faz um estilo totalmente fora do convencional, pois flerta pelas raízes do desconhecido musical.

Com sua voz de Chevrolet 54, o ponto forte do músico é sua originalidade e esquisitices musicais, onde ele faz experimentos com os mais variados tipos instrumentos, passando por sons de coturnos marchando, sinos e as mais variadas formas de extrair sons de objetos nada convencionais.

Mas nosso artista nada convencional não fica somente na música, ele flerta como ator podendo se dizer, nas horas vagas. É Amigo dos grandes cineastas Francis Ford Coppola e do não menos amigo Hector Babenco, Tom já participou de vários filmes e diga-se de passagem que não foi qualquer filme, entre eles podemos citar, o “Drácula de Bran Stocker”, “Caminhando nos campos do senhor” este gravado no Brasil, “O livro de Eli”, “Sete psicopatas e um Shih Tzu” e o não menos famoso “Down by law”.

Apesar de uma carreira extensa tendo mais de vinte discos gravados e participado de no mínimo dez filmes, nosso artista ainda tem um pecado em sua vida, não veio mostrar sua performance como artista no Brasil, não são poucos fãs que Tom Waits tem por aqui, em 1992  numa reportagem que o músico concedeu para o jornal Zero Hora, ele diz: “acho que o Brasil tem medo que eu acabe com o estoque de cigarros e whisky, por isso não me contratam para um concerto aí kkkkk”, mas deixando as brincadeiras de lado, sabemos que não houve nenhum convite para o artista tocar em nosso país, mas caso alguém queira ter a oportunidade de ver um show de Waits, terá que ir até a Argentina, país onde o músico já fez algumas apresentações.

A vida pessoal e artística de Tom tem algumas curiosidades, além de ter nascido em um banco de traseiro de um taxi em 1949, ele inovou fazendo seu disco Big Time virar uma peça teatral, espetáculo que escreveu com sua esposa Kathleen Brennan (dramaturga irlandesa) apresentando uma performance marcante e única, além disso Waits diz que suas mais importantes obras foram feitas com Kathleen, sendo elas Kellesimore e Casey Xavier suas filhas.

Além disso podemos citar como uma de suas aparições mais emblemáticas em filmes, “Sobre café e cigarros” onde Tom contracenou nada mais nada menos com Mr. Iggy Pop, e os dois protagonizam um diálogo insano, Tom Waits e Iggy Pop no mesmo filme pode-se dizer que seria cafeína pura na veia, onde a conversa gira em torno de café cigarros é lógico. É um filme interessante e de contexto divertido pelos diálogos e formatos que aparecem no decorrer do roteiro.

E assim conhecemos um pouco do mundo paralelo e porque não dizer bizarro de Tom Waits, esse artista que toca piano, acordeon entre outros instrumentos nada convencionais, além de ter atuado nos mais diferentes tipos de papéis no cinema, indo desde um pianista de cabaré até um papel de presidiário aloprado em Down by law. Essas são apenas algumas passagens do mundo bizarro de Tomas Alan Waits ou apenas Tom Waits para os fãs mais íntimos.

 Marcelo Ávila Franco


Haicais em Cidreira

HAICAIS VeJo senTido no Meu desaPreÇo, Saudades No meU deSapeGo, Apego nO meU reCoMeçO. aManheCeu Em maiS Um diA. Olhos CanSados aPós noiTe ...